Partido que tem como principal estrela o deputado federal Guilherme Boulos, derrotado na eleição de São Paulo, o PSOL enfrenta uma situação desfavorável em âmbito nacional. Em 2024, a legenda perdeu as poucas prefeituras que comandava e não elegeu nenhum de seus 210 candidatos ao cargo. No saldo, começará o ano que vem sem nenhum município do País.
A presidente do partido, Paula Coradi, minimiza as derrotas. Ao jornal O Globo, ela afirma que “uma parte considerável” da população está descrente da política, mas avalia que a sigla deve manter as pautas à esquerda, sem inflexões ao centro. O PSOL deve se reunir na semana que vem para fazer um balanço da disputa.
Entre os psolistas, além de Boulos, apenas Yuri Lucas, candidato em Petrópolis (RJ), conseguiu avançar para o segundo turno em 2024. Acabou derrotado por Hingo Hammes, do PP. O atual prefeito de Belém (PA), Edmilson Rodrigues (PSOL), sequer chegou à segunda etapa de disputa. A administração da cidade terminou nas mãos do candidato do MDB, Igor Normando.
Na corrida ao cargo de vereador, o partido teve 3.523 candidatos e elegeu 73. Para comparação, a sigla lançou 4.028 candidatos em 2020 e teve 93 eleitos. Naquele ano, o PSOL concorreu a 353 prefeituras e teve sucesso em cinco cidades. Mesmo assim, não conseguiu manter o comando por muito tempo nesses municípios.
Em Janduís (RN), o prefeito Salomão Gurgel (PSOL) não concorreu à reeleição por determinação da Justiça. Salomão se tornou inelegível por ato de improbidade, devido à contratação irregular de uma empresa em 2005, quando ainda administrava a cidade pelo PT. A prefeitura passou para seu vice, Elvécio Gurgel (PT), que virou cabeça de chapa após o rearranjo político.
A prefeitura de Marabá Paulista (SP) também não ficou muito tempo nas mãos do partido. Cido Sobral até conseguiu se reeleger, mas já havia trocado o PSOL pelo MDB. A história é semelhante à de João Alfredo, prefeito de Ribas do Rio Pardo (MS), que deixou a sigla para se filiar PT. Ao tentar a reeleição, porém, João foi derrotado por Roberson (PSDB).
“Já há alguns anos, uma parte da sociedade não consegue mais enxergar na política um instrumento de transformação. Eu acho que isso é uma lição sobre a qual a gente precisa refletir bastante”, avalia Coradi. “Uma situação que nos leva a uma reflexão profunda é que quem ganhou em São Paulo foi a abstenção, os brancos e nulos (na soma, houve mais ‘não-voto’ que eleitores de Ricardo Nunes, do MDB). Isso reflete uma crise política que nós estamos atravessando”, ela completa.
Sobre a derrota em São Paulo, Coradi admite que houve “pequenos erros”, mas nada que, na opinião dela, determinasse os rumos da disputa. A líder também discorda da avaliação de algumas lideranças petistas de que uma candidatura mais ao centro seria o ideal na capital paulista, e diz que o partido vai manter suas pautas históricas:
“A gente tem esse desafio de pensar essas mudanças na sociedade e no do mundo do trabalho, mas isso não significa que repensar é recuar em relação às nossas bandeiras, ao que a gente pensa. Muita gente tem feito uma análise dizendo que a pauta identitária (nos prejudica). Eu acho que é algo que não cabe nesse balanço, porque as mudanças são muito profundas.”
Para Coradi, Boulos era o “quadro natural” na busca pela prefeitura paulistana e o deputado federal sai da eleição “muito credenciado para liderar o próximo ciclo da esquerda”. Coradi ainda fez reverência à aliança com o PT, afirmando que o partido cumpriu com suas promessas — o PT destinou R$ 45 milhões do fundo partidário à candidatura psolista em São Paulo. Ela descarta, porém, que a aproximação poderia resultar em uma entrada de Boulos na sigla de Lula.
“Ele (Boulos) é um companheiro que disputa as nossas posições internas, ele participa muito da vida partidária internamente. Nós temos total confiança de que ele permanecerá no nosso pessoal, no projeto que nós estamos construindo juntos, né? Não há movimentação nesse sentido”, concluiu.