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PT chega dividido ao processo de escolha do sucessor de Gleisi Hoffmann na presidência nacional do partido

Quem reuniria as melhores condições de ocupar o cargo nesse cenário é o prefeito de Araraquara (SP), Edinho Silva. (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Em meio ao mau desempenho nas eleições municipais e ao avanço da direita em todo o mundo, o PT deflagra o processo de sucessão da presidente da sigla, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), neste final de semana, quando o diretório nacional se reunirá para definir o formato do pleito e o calendário eleitoral. O partido chega dividido ao início do debate, com pelo menos três pré-candidaturas sobre a mesa, e o desafio de traçar um novo rumo para se reconectar com a sociedade e a realidade brasileiras.

Com o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos bastidores, o prefeito de Araraquara (SP) e ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social Edinho Silva larga na frente, mas ainda enfrenta resistência de lideranças da sigla, que se inclinam para o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE). Ante o impasse, o nome do presidente da Fundação Perseu Abramo, Paulo Okamotto – historicamente, um dos quadros mais próximos de Lula – passou a ser citado como um “tertius”, apto a unificar a legenda.

Reconhecida internamente por cumprir missões espinhosas como a campanha “Lula, livre” e a coordenação das campanhas presidenciais de Fernando Haddad em 2018 e de Lula em 2022, Gleisi terá cumprido um mandato de oito anos na direção da sigla, até meados de 2025. Seu sucessor terá o desafio de coordenar a sucessão de Lula em 2026 e tentar manter o partido no poder, além de ampliar as bancadas federais no Senado e na Câmara dos Deputados.

Um interlocutor de Gleisi disse ao Valor que a pauta do diretório petista na reunião deste sábado (7) tem esse “caráter inaugural de abertura do processo sucessório”, e acrescentou que o desafio da atual dirigente é construir a unidade do partido em torno de uma candidatura até o desfecho. A eleição do próximo dirigente deve ocorrer em junho de 2025, e reeditar os formatos anteriores do processo de eleições diretas (PED), em que filiados elegem as direções municipais, estaduais e delegados, que votam nas chapas nacionais. Gleisi foi eleita em 2017 e reeleita em 2019 em eleições internas diretas, mas teve o mandato prorrogado em 2023 pelo diretório nacional.

Okamotto, Edinho e Guimarães representam a tendência Construindo um Novo Brasil (CNB), considerada um “partido dentro do partido”, da qual Lula é integrante, e que dá as cartas na legenda há décadas.

Atualizar projeto

Ao Valor, Okamotto disse que discutir nomes para o lugar de Gleisi agora é prematuro porque a prioridade é atualizar o projeto do PT, mas não descartou essa possibilidade. “Eu não estou preocupado com nomes, nem estou discutindo se posso ou não [ser presidente]. Estou preocupado em ter um programa, em qual política vai ser implementada nos próximos quatro anos, em quem são as pessoas que vão tocar esse programa”, afirmou. “Porque se não tivermos um projeto, um programa partidário, o nome não fará diferença, será tudo artificial”, reforçou.

Questionado sobre sua candidatura e a bandeira de que um representante do Nordeste assuma a condução do PT, Guimarães afirmou que ainda não é o momento de de discutir o assunto, na entrevista ao Valor publicada na sexta-feira (29). Procurado, Edinho não retornou até o fechamento da matéria.

Se a reunião de sábado formalizará o início da corrida sucessória, a campanha interna do PT está na rua desde o fim da eleição municipal. Edinho Silva desagradou lideranças petistas, inclusive da CNB, ao criticar Gleisi em entrevistas, ponderando que ela não deveria ter assinado o manifesto do partido contra o pacote de cortes de gastos de Haddad, porque o gesto fragilizava o governo. Em reação, aliados de Gleisi argumentaram que a crítica da dirigente mirava a intensa cobrança do mercado e da imprensa pelos cortes, e não o ministro ou o governo.

O ruído gerado por essas declarações fortaleceu Guimarães, que saiu com mais musculatura das eleições municipais após liderar, ao lado do ministro da Educação, Camilo Santana, a vitória do PT em Fortaleza.

Em contrapartida, um ministro que apoia Edinho ponderou, reservadamente, ao Valor que Guimarães teria de optar entre dois grandes projetos políticos, e que Lula cobraria isso dele: presidir o PT ou tentar um mandato de senador em 2026, porque ambos demandariam muita energia. Um defensor do líder do governo, entretanto, rechaçou que as duas pretensões sejam inconciliáveis. As informações são do Valor Econômico.

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