O presidente da Rússia, Vladimir Putin, atualizou a doutrina nuclear do país após a Ucrânia disparar seis mísseis fabricados nos Estados Unidos. Com a mudança, a Rússia passa a considerar ataque conjunto qualquer ataque partido de um país sem arsenal nuclear com apoio de uma nação que tenha armas nucleares.
Vale mencionar: 1) a Rússia é a maior potência nuclear do mundo; 2) dois dias antes da atualização da doutrina nuclear russa, o presidente dos EUA, Joe Biden, autorizou a Ucrânia a usar mísseis de longo alcance fabricados na terra do Tio Sam em território russo; 3) para governo russo, gesto dos EUA sinalizou escalada perigosa da guerra na Ucrânia.
O porta-voz de Putin, Dmitry Peskov, disse, em chamada com repórteres, que as mudanças na doutrina significam que “a Federação Russa reserva o direito de usar armas nucleares em caso de agressão usando armas convencionais contra ela e/ou a República da Bielorrússia“.
O gesto de Putin abre caminho para a Rússia usar armas nucleares para responder aos ataques ucranianos feitos com apoio dos EUA. Lembrando que dissuasão com base em ameaça de uso de armas nucleares é um pilar da doutrina militar dos russos.
Doutrina nuclear
A atualização da doutrina, a segunda em menos de seis meses, diz que qualquer ataque aéreo maciço contra a Rússia pode desencadear uma resposta nuclear, e demonstra a disposição de Putin de usar o arsenal nuclear do país para forçar o Ocidente a recuar enquanto Moscou pressiona com uma ofensiva lenta na Ucrânia.
Ao ser questionado se a doutrina atualizada foi deliberadamente publicada após a decisão de Biden, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse que o documento foi publicado “em tempo hábil” e que Putin instruiu o governo a atualizá-lo no início deste ano para que estivesse “de acordo com a situação atual”.
Putin anunciou pela primeira vez as mudanças na doutrina nuclear em setembro, quando presidiu uma reunião para discutir as revisões propostas.
A doutrina atualizada afirma que um ataque contra a Rússia por uma potência não nuclear com a “participação ou apoio de uma potência nuclear” será visto como um “ataque conjunto à Federação Russa”.
Ameaça
Acrescenta que a Rússia pode usar armas nucleares em resposta a um ataque nuclear ou convencional que represente uma “ameaça crítica à soberania e à integridade territorial” da Rússia e de sua aliada Belarus, uma formulação vaga que deixa amplo espaço para interpretação.
Ela não especifica se tal ataque necessariamente desencadearia uma resposta nuclear. Ele menciona a “incerteza de escala, tempo e local de possível uso de dissuasão nuclear” entre os princípios fundamentais da dissuasão nuclear.
O documento também observa que uma agressão contra a Rússia por um membro de um bloco ou coalizão militar é vista como “uma agressão por todo o bloco”, uma clara referência à Otan.