Ele enfrentou uma multidão de fãs no Daguestão. Pegou uma menininha no colo em Kronstadt. Posou com sete irmãos em um desfile naval. O presidente russo, Vladimir Putin, saiu do isolamento da época da pandemia para cair nos braços do povo, numa tentativa de recuperar sua imagem abalada pelo motim fracassada contra seu governo.
O comportamento é uma mudança significativa para Putin, que cultivou a reclusão extrema na pandemia. Após a invasão da Ucrânia, o distanciamento dele contrastava com as visitas do presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, a hospitais e barricadas. Mas agora, Putin está colocando a cara em aparições orquestradas, como se fosse alguém que estivesse no comando, após a rebelião do Grupo Wagner.
Putin sempre detestou o mise-en-scène populista, ridicularizando os beijos em criancinhas dados pelos políticos americanos. Mas o motim de junho mudou o cálculo do presidente. Dias após a revolta, ele viajou para Derbent, no sul da Rússia, e surgiu no meio de uma multidão gritando de alegria.
Tatiana Stanovaia, do Carnegie Russia Eurasia Center, disse que a decisão de se misturar com a multidão foi certamente uma escolha pessoal de Putin, uma mensagem para a elite de que ele ainda tem a adoração do povo. “O motim foi um golpe forte na legitimidade de Putin”, disse Stanovaia. “E de onde vem a legitimidade? Do povo. Portanto, o desejo de se lançar ao encontro do povo e sentir-se apoiado é uma necessidade que surge após o motim.”
As aparições de Putin não pararam no Daguestão. Em 23 de julho, ele levou o ditador belarusso, Aleksander Lukashenko, para Kronstadt, cidade conhecida por sua história de motins no século 20. Os dois se misturaram à multidão diante de uma catedral, onde Putin tirou fotos com os noivos. Depois, ele levantou uma menina sorridente com óculos de sol rosa na cabeça.
Dias depois, Putin recebeu líderes africanos em São Petersburgo. A cúpula não resolveu seus problemas geopolíticos, mas rendeu boas fotos de alguém que está no comando. O presidente cumprimentou seus colegas africanos, ofereceu um jantar de gala e retornou a Kronstadt em um barco lotado, onde parecia não se cansar de cumprimentar passageiros.
Nos últimos dias, as aparições públicas foram projetadas para comunicar normalidade e demonstrar que ele ainda conta com a lealdade da população. Na quarta-feira, ele se encontrou com viúvas cujos maridos haviam morrido na guerra, acariciando a cabeça da filha de um soldado falecido.
Sam Greene, diretor do Centro de Análise de Políticas Europeias, de Washington, afirmou que Putin pode estar intensificando sua agenda pública antes da eleição presidencial de 2024. Será a quinta eleição dele. Após neutralizar seus rivais, ninguém duvida que ele será reeleito.
“Todos os oligarcas e pessoas ricas, poderosas e inescrutáveis existem porque tem alguém no palco mantendo o show acontecendo”, disse Greene. “Putin precisa comunicar à elite que ele não é apenas bom nisso, mas que não há nem sequer comparação com os outros.” As informações são do jornal The New York Times.