O presidente da Rússia, Vladimir Putin, ordenou que o país inicie a produção em série de mísseis hipersônicos “Oreshnik” — o mesmo modelo que Moscou afirmou ter disparado contra a cidade ucraniana de Dniéper no dia anterior — e prometeu mais testes do armamento, inclusive em “condições de combate”. A ordem do chefe do Kremlin é o mais novo desdobramento da espiral de tensões no contexto da guerra na Ucrânia, que se internacionaliza a cada dia e aprofunda os temores de um choque de escala global, enquanto Kiev apela para sistemas de defesa aérea atualizados para enfrentar a nova ameaça.
“Continuaremos com esses testes, inclusive em condições de combate, dependendo da situação e do caráter das ameaças à segurança impostas à Rússia”, disse Putin em uma reunião televisionada com chefes militares.
A introdução da nova arma no campo de batalha aumentou ainda mais as tensões na guerra de quase três anos e ocorre no momento em que as forças de Kiev estão lutando no terreno.
“A ameaça de um conflito global é séria e real”, afirmou o primeiro-ministro da Polônia, Donald Tusk, referindo-se aos últimos acontecimentos na Ucrânia, incluindo as ameaças de Putin sobre estar preparado para responder a qualquer nova ação considerada hostil por parte dos aliados ocidentais. “A guerra no leste está entrando em uma fase decisiva, sentimos que o desconhecido está se aproximando.”
Na fronteira com a Ucrânia e porta da Otan e da União Europeia para o conflito, a Polônia estaria na linha de frente em caso de uma ampliação na área de conflito da guerra no Leste Europeu — nas duas guerras mundiais, o país foi um dos primeiros teatros de operações, sendo ocupada em ambas. A área afetada, contudo, poderia ser ainda maior, considerando o jogo de alianças que se desenvolveu ao longo dos últimos quase três anos.
Os especialistas acreditam que o novo míssil Oreshnik voa a 10 vezes a velocidade do som e pode atingir alvos a até 5.500 quilômetros de distância — o suficiente para cumprir as ameaças de Putin de atingir os aliados europeus de Kiev, mas não o suficiente para atingir os Estados Unidos.
Classificando o ataque como “o mais recente surto de loucura russa”, Zelensky pediu que os aliados da Ucrânia intensificassem o fornecimento de defesas aéreas.
“Qualquer que seja a ameaça dos mísseis russos, ela não pode ser ignorada”, acrescentou o presidente ucraniano.
Parcerias estratégicas
O risco de um conflito mundial cada vez mais próximo também foi lembrado em Pyongyang, embora citando Washington como o fator de desestabilização. Na quinta–feira, Kim Jong-un subiu o tom contra os EUA em uma declaração reproduzida pela agência central de notícias KCNA. Durante uma exibição militar, o líder supremo afirmou que o mundo “nunca antes” esteve diante de uma ameaça de guerra nuclear tão imediata quanto a atual.
“Nunca antes as partes em guerra na Península Coreana enfrentaram um confronto tão perigoso e agudo que poderia escalar para a mais destrutiva guerra termonuclear”, disse Kim em uma exibição militar, acrescentando que Pyongyang foi ‘tão longe quanto podia’ em suas conversas com os EUA, a quem acusou de manter uma postura ‘agressiva e hostil’.
Embora a distância e o conteúdo da declaração possa parecer se referir a um contexto exclusivo da situação na Ásia, a aproximação entre a Coreia do Norte e a Rússia, que assinaram um tratado de defesa mútua, pelo qual se comprometem a prestar socorro em caso de agressões aos seus territórios por terceiros, colocou o país asiático no front europeu e aproximou a guerra na Ucrânia da Península Coreana. Estimativas ocidentais apontam que mais de 10 mil militares norte-coreanos estão em solo russo, embora suas atuais funções no campo de batalha não sejam inteiramente conhecidas. Armas do país, como bombas e foguetes, também já foram empregadas no front ucraniano.
O impacto de uma guerra mais ampla também poderia chegar a outras duas partes da Ásia. Mais a leste, a China vem sendo o principal esteio econômico e aliado estratégico da Rússia desde o começo da guerra, frustrando todas as tentativas ocidentais de sufocar Moscou. Componentes chineses foram encontrados em partes de armas utilizadas pelas forças russas em solo ucraniano, com autoridades de Kiev acusando Pequim de ter cedido “bombas e peças” ao Kremlin.