Quarta-feira, 08 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 7 de janeiro de 2025
Quadrilhas que integram a máfia de cigarros ilegais agora fabricam os próprios produtos. O negócio, que movimenta centenas de milhões de reais por ano, também envolve o planejamento de assassinatos e crimes com uso de muita violência.
Nos últimos nove anos, pelo menos 33 fábricas clandestinas de cigarros foram fechadas no País. No mesmo período, foram registrados homicídios decorrentes de disputas da máfia de cigarros em pelo menos sete estados: Rio Grande do Sul; São Paulo; Minas Gerais; Rio de Janeiro; Mato Grosso;
Mato Grosso do Sul, e Rio Grande do Norte.
O produto final que chega ao consumidor passa por diversas partes do Brasil. A maior parte da matéria-prima, por exemplo, vem do Rio Grande do Sul. Lá, Bruna Ellin foi assasinada na porta de casa, na região Metropolitana de Porto Alegre, em agosto de 2023. Segundo a PF, ela era envolvida com a máfia de cigarros ilegais.
Autoridades envolvidas nas investigações desse tipo de crime explicaram que o contrabando do Paraguai sai pelos portos do Uruguai ou do Chile. Depois, vai pelo Oceano Pacífico até o canal do Panamá, por onde atravessa para entrar na Venezuela e no Suriname.
“Por conta da ponte da amizade, no Paraguai ser amplamente fiscalizada no âmbito do Brasil, acaba que essas organizações se aproveitaram dessa rota do Suriname”, afirmou Darlison Santiago, delegado da PF em Belém.
“Cada carga que compõe um caminhão, por exemplo, pode estar avaliada em R$ 2 milhões, R$ 3 milhões e você tem cargas semanalmente sendo transportadas”, afirmou Santiago Hounie, delegado da Polícia Federal no Rio Grande do Norte.
“O poder econômico gerado a partir dessa atividade tem levado a outros delitos periféricos que são igualmente graves ou piores. Estamos aí a falar de corrupção policial pra que a atividade possa ser realizada, tanto pra viabilizar o transporte e armazenamento como também pra comercializar nas capitais”, avaliou.
Pará
No estado do Norte do país, a família Quaresma comanda os negócios ilegais envolvendo cigarros. Em outubro, a PF conseguiu prender sete integrantes do clã, que age na região desde os anos 90. Eles estavam foragidos no Suriname.
A partir de Abaetetuba, no Pará, os Quaresma, segundo a PF, abasteciam o mercado ilegal de toda a região Norte, além de estados no Nordeste e no Sudeste, em uma atividade que rendeu ao grupo mais de R$ 50 milhões nos últimos anos.
“É uma das principais famílias, principalmente por conta do alto poder de estruturação que a organização criminal, ela teve, sobretudo com as embarcações. Eles sabem qual é a rota de sair aqui de Abaetetuba e até chegar ao Suriname”, explicou o delegado Darlison Santiago.
Crimes
Das 33 fábricas fechadas no país nos últimos anos, seis foram em Minas Gerais e três no Rio de Janeiro. Neste último estado, duas delas fabricavam cópias do cigarro paraguaio Gift, que já era uma marca ilegal e passou a ser falsificada em larga escala.
Os cigarros Gift falsificados são vendidos em metade dos 92 municípios do Rio, em uma disputa que envolve violência e assassinatos: comerciantes que se negam a vender são mortos e os concorrentes, executados.
De 2022 a 2024, já são mais de vinte crimes provocados pela máfia do cigarro no Rio – entre tentativas de homicídio, desaparecimentos, sequestros e assassinatos.
A chefe da fiscalização no Rio e no Espírito Santo, Dafne Calatroni Cardoso, citou as dificuldades para o combate a esse mercado ilegal:
“A Receita tem atuado de uma forma diligente, tanto na entrada de cigarros de outros países de forma irregular, quanto sempre que a gente verifica fábricas clandestinas, no fechamento dessas fábricas, na apreensão desse material já aconteceu de a gente conseguir fechar uma fábrica, por exemplo, em 2021, e aparentemente ela reabre com outro nome, com outro sócios, anos depois”, pontuou.