Quarta-feira, 26 de março de 2025
Por Redação O Sul | 20 de março de 2025
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou ontem a taxa básica de juros, a Selic, em 1 ponto percentual, de 13,25% para 14,25% ao ano, entregando o choque de juros prometido no fim do ano passado para tentar controlar a inflação. O Brasil tem agora o quarto maior juro real do mundo.
A Selic está no nível mais elevado desde outubro de 2016 e se iguala ao nível da crise do impeachment de Dilma Rousseff.
Esse patamar já deve ser superado na próxima reunião, em maio, uma vez que o Copom indicou que deve aumentar a Selic, embora em menor ritmo. Se confirmado, chegará ao maior nível desde o primeiro governo Lula, em 2006.
Para as reuniões seguintes a maio, o Copom somente reforçou que a magnitude total do ciclo de alta de juros será ditada pelo “firme compromisso de convergência da inflação à meta” e dependerá da evolução da inflação, das projeções e expectativas de inflação, do hiato do produto (medida de aquecimento da economia) e do balanço de riscos.
Foi o quinto aumento consecutivo da Taxa Selic neste ciclo de aperto monetário, iniciado em setembro de 2024. O tom do comunicado foi considerado mais duro do que o esperado por economistas, particularmente na sinalização de um novo aumento em maio, por exemplo.
— É um comunicado que fortalece um aumento de 0,50 ou 0,75 ponto percentual em maio — diz a economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Natalie Victal.
‘Mais perto do fim que no meio’
Ela cita ainda a avaliação sobre a atividade econômica. Para Natalie, o BC foi cauteloso ao dizer que há sinais de “incipiente” moderação. Nesse contexto, e com a projeção de inflação longe da meta, ela prevê um aumento de 0,50 ponto em maio e outro de 0,25 ponto em junho, com a Selic chegando a 15%.
— Não achei ruim que, dadas as incertezas e a defasagem, o BC tenha dito que antevê um ajuste de menor magnitude. Está dentro do esperado, dado o nível do ciclo monetário, já está com a Selic em 14,25%, não é pouca coisa. Está mais perto do fim que no meio, faz sentido a redução do ritmo — afirma a economista-chefe e sócia da Buysidebrazil, Andrea Damico.
Natalie diz ainda que, até agora, “não há nada que desabone” o BC escolhido por Lula, que tem adotado decisões tecnicamente defensáveis:
— Isso acaba ajudando na credibilidade, mas o que dá credibilidade mesmo é entregar inflação na meta.
‘Porta aberta’
Rafael Cardoso, economista-chefe do Banco Daycoval, observa que, como a elevação dos juros era esperada, os aspectos do comunicado sobre o diagnóstico do cenário pelos diretores do BC e a sinalização da atuação futura eram mais importantes.
Ele identificou no texto o “reconhecimento da incerteza maior no cenário internacional”, principalmente nos Estados Unidos de Donald Trump e suas repercussões no economia global. Para o economista, o comunicado também aponta a visão de que a “atividade econômica tem apresentado dinamismo ainda”, com “sinais de remodelação do crescimento” e uma inflação que “segue incomodando”.
— A gente achava que o Banco Central não daria sinalização para o futuro. E ele fez. Ele contratou, pelo menos, mais uma alta, ainda que de menor magnitude, e deixa a porta aberta para altas posteriores. Então, a gente sabe que pelo menos mais uma alta de taxa de juros teria, isso estava já no nosso cenário, mas a gente acreditava que o Banco Central não sinalizaria nessa direção, mas ele o fez.
O economista diz que sua equipe prevê uma alta de 0,50 ponto percentual seguida de oura na mesma magnitude nas próximas duas reuniões do BC, com a Selic terminando o ano em 15,25%.
— A gente acha que isso é compatível com a comunicação do Banco Central, e, portanto, ainda que a gente tenha se surpreendido com o compromisso do BC, esse anúncio, já estava no nosso cenário, e, portanto, não altera nossa percepção.
Na visão de outros analistas, o BC tende a desacelerar o ritmo para um aumento de 0,50 ponto percentual, como indicado na curva dos juros futuros. Além disso, alguns especialistas avaliam que o ciclo de aperto monetário pode ir até junho — quando o mercado precifica mais 0,25 pp de alta.
— BC deixou em aberto para as seguintes, o que acho importante num momento de incerteza externa, expectativas pressionadas, com quadro de desaceleração ainda incipiente — diz Fernando Gonçalves, superintendente de Pesquisa Macroeconômica do Itaú.
Atividade econômica e riscos
Assim como outros especialistas, ele vê impacto limitado na curva de juros futuros, dado que o BC sinalizou a desaceleração do ritmo de aperto já precificada pelo mercado.
— O BC não se comprometeu com nada muito além da próxima reunião, mas já enxerga uma desaceleração — diz Gonçalves. — O mercado já tinha nos preços uma alta de juros até cerca de 15%, mas talvez preços não se movam tanto em termos de curva de juros. As informações são do portal O Globo.