Sexta-feira, 15 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 2 de setembro de 2024
As escolas públicas dos Estados Unidos estão adotando medidas cada vez mais drásticas para tentar afastar os jovens dos seus celulares.
Foto: Isac Nóbrega/PRVocê conhece o movimento da piracema? É uma época do ano que o clima ganha dia com mais chuvas, portanto as águas de rios ficam mais oxigenadas, e os dias são mais ensolarados. E é exatamente nessa época que os peixes percebem as mudanças do tempo, o que indica a eles condições favoráveis para reprodução. Mas para que isso aconteça eles precisam nadar contra a correnteza. São cardumes de várias espécies de peixes, e mundo afora, que nadam rio acima para desovar. Para fazer nascer.
O esforço contra a corrente é essencial para o processo de reprodução, pois os peixes queimam gordura e estimulam a produção de hormônios responsáveis pelo amadurecimento dos órgãos sexuais. E a duração da viagem varia bastante. Peixes como as piavas não vencem mais do que 3 quilômetros por dia, mas há registros de curimbatás que chegaram a rasgar 43 quilômetros de rio em apenas 24 horas. Algumas espécies chegam a subir 600 quilômetros, segundo informações do Instituto da Pesca.
Mas para todos a jornada é cheia de perigos. Além de superar cachoeiras, predadores e outros obstáculos naturais, esses animais precisam também vencer a pesca predatória. Agora perai, o que isso tem a ver com o título dessa matéria? Pois é, ao contrário dos cardumes de peixes que nadam contra a correnteza, ainda é pequeno o número de pais, mães e responsáveis legais que resistem a pressão social para que o filho tenha seu próprio aparelho celular.
Aquela frase célebre – “ah! Mas todo mundo tem, menos eu!”- que acompanha muitas gerações de crianças e adolescentes ainda resiste e persiste nos tempos atuais. O problema é que agora eles querem não o álbum de figurinha ou o sorvete. Querem tablet ou smartphone.
Os tempos mudaram e ficou difícil ter forças para nadar contra a correnteza. Até porque os predadores proliferaram pelo caminho e, muito além da pressão dos coleguinhas, existe a pressão das plataformas, das big tech como se chama por aí. O que fazer? Como conseguir resistir ao máximo? Qual o momento certo? Existe a idade ideal para ganhar o primeiro celular?
Para o pediatra Daniel Becker, o ideal é não oferecer acesso à criança até os 14 anos. Aos que já têm, ele aconselha restringir ao máximo o tempo de tela. “Nos Estados Unidos existe uma campanha que incentiva dar o celular só na oitava série, que é quando eles estão com 13, 14 anos, ou até o Ensino Médio mesmo. Isso é essencial. Quanto mais cedo você dá o celular na mão da criança, maior a possibilidade de vício, menor as chances dela conseguir ter uma adolescência normal, maiores as chances de depressão. Ela precisa passar pela puberdade sem celular,” aconselha o médico.
As escolas públicas dos Estados Unidos estão adotando medidas cada vez mais drásticas para tentar afastar os jovens dos seus celulares. Em maio, no estado da Flórida, por exemplo, foi aprovada uma lei que exige às escolas públicas vetarem o uso de celulares durante as aulas, inclusive algumas, ampliaram a restrição para todo o período escolar.
Segundo as lideranças locais, as medidas mais rigorosas são imprescindíveis devido ao uso descontrolado das redes sociais nestes espaços, comprometendo a educação, o bem-estar e a segurança física dos estudantes. Em diversas instituições de ensino, adolescentes planejam e registram agressões contra colegas, divulgando os vídeos no TikTok e Instagram.
Por aqui, duas ações ganham forças: o Movimento Desconecta, encabeçado por mães de crianças e adolescentes que decidiram remar contra a maré, e a deputada estadual Marina Helou que está com um projeto de Lei para proibir o uso dentro das escolas.
Para Gabriel Salgado, coordenador da área de Educação do Instituto Alana, as telas não devem substituir e nem competir com as atividades essenciais das crianças e dos adolescentes, como as atividades físicas, as horas de sono, o momento da alimentação, o contato com a natureza e as interações sociais. “Este é um pressuposto fundamental para compreendermos que não é benéfico às crianças receberem celulares como presentes, em substituição das brincadeiras. E que seu brincar não está restrito ao uso e consumo de brinquedos específicos,” diz.
Becker ressalta que o melhor dos mundos seria retardar esse acesso das crianças e adolescentes até os 16 anos. Mas a partir do momento em que os pais o permitem, que ele seja supervisionado. “Hoje existem aplicativos de controle de tempo, de sincronização de perfil, para que eles possam ver o que está acontecendo, saber de quem essa criança está recebendo mensagem, ou porque está mandando mensagem. Controlar os contatos, os grupos sociais, os grupos no WhatsApp, isso é essencial. Não pode ter grupo de criança e adolescente sem supervisão parental,” orienta.(Carolina Delboni/AE)