Adultos com menos de 50 anos têm desenvolvido câncer de mama e câncer colorretal em taxas cada vez maiores nas últimas décadas, e o consumo de álcool pode ser um fator que impulsiona essa tendência, segundo um relatório da Associação Americana de Pesquisa do Câncer.
O estudo destaca avanços científicos que levaram ao desenvolvimento de novos medicamentos anticâncer e à melhora na sobrevida geral. No entanto, os autores descreveram um padrão preocupante: mesmo com a diminuição das taxas de mortalidade por câncer, a incidência geral de vários tipos dele tem aumentado de forma inexplicável, com um aumento especialmente alarmante entre adultos mais jovens nos cânceres do sistema gastrointestinal, como o câncer colorretal.
O documento estima que 40% de todos os casos de câncer estão associados a fatores de risco modificáveis. Recomenda a redução do consumo de álcool, além de mudanças no estilo de vida, como evitar o tabaco, manter uma dieta e peso saudáveis, praticar exercícios, evitar radiação ultravioleta e minimizar a exposição a poluentes.
Os autores pediram uma maior conscientização por meio de campanhas de comunicação pública e a adição de rótulos de advertência específicos sobre câncer nas bebidas alcoólicas.
As recomendações surgem em meio a uma reavaliação radical dos supostos benefícios à saúde do consumo moderado de álcool, que por anos foi considerado protetor contra doenças cardíacas.
No mês passado, um grande estudo que acompanhou mais de 135.000 adultos britânicos mais velhos por mais de uma década descobriu que consumidores moderados e leves não se beneficiaram de uma redução nas doenças cardíacas quando comparados aos ocasionais.
Além disso, tanto consumidores moderados quanto leves apresentaram mais mortes por câncer do que bebedores ocasionais, uma descoberta acentuada entre idosos de baixa renda e aqueles com problemas de saúde existentes.
“Cinco por cento das pessoas, ou mais da metade, não sabem que o álcool aumenta o risco de câncer. Isso é muito preocupante”, observa Jane Figueiredo, epidemiologista do Instituto Compressivo de Câncer Samuel Oschin, no Centro Médico Cedars-Sinai, em Los Angeles, que participou do comitê responsável pelo relatório.
O consumo excessivo de álcool aumenta o risco de seis tipos de malignidades, incluindo carcinoma espinocelular do esôfago e certos tipos de câncer de cabeça, pescoço, mama, colorretal, fígado e estômago, constatou o relatório.
Cerca de 5,4% dos cânceres nos Estados Unidos — pouco mais de um em cada 20 diagnósticos — foram atribuídos ao consumo de álcool em 2019, o ano mais recente para o qual os dados estão disponíveis.
No entanto, a conscientização pública é baixa. Um estudo descobriu que menos de um terço das mulheres de 18 a 25 anos sabia que o uso de álcool aumenta o risco de câncer de mama.
Entre adultos na casa dos 30 anos, as taxas de câncer aumentaram significativamente entre 2010 e 2019. Os maiores aumentos em 2019 foram nos cânceres de mama, tireoide, cólon e reto, segundo o relatório.
O câncer colorretal de início precoce (definido como malignidades em adultos com menos de 50 anos) aumentou 1,9% ao ano entre 2011 e 2019, conforme o relatório, citando numerosos estudos publicados que documentaram a tendência.
Maiores riscos
O aumento do consumo de álcool na meia-idade também piora o risco. O álcool tem efeitos adversos sobre o microbioma, a coleção de bactérias, fungos e vírus que vivem em nosso corpo, identifica Figueiredo.
O consumo de álcool altera as bactérias intestinais, o que pode influenciar o crescimento e a disseminação de cânceres.
Acredita-se também que o álcool aumente o risco de câncer de mama em mulheres porque pode elevar os níveis do hormônio estrogênio, que pode estimular o desenvolvimento da doença. Como resultado, reduzir o consumo de álcool é uma das poucas maneiras que as mulheres têm de modificar seu risco para essa doença.
E, enquanto as mulheres sempre foram desencorajadas a beber durante a gravidez por várias razões, o relatório da Associação Americana de Pesquisa do Câncer oferece mais uma: pesquisas mostram que consumir álcool durante a gravidez aumenta o risco de leucemia infantil nos filhos. Tanto o consumo moderado quanto o elevado durante a gestação, conforme estudos.