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Por Redação O Sul | 23 de abril de 2024
Em termos de marcos, completar 35 anos pode parecer banal. A menos que você seja uma mulher que espera engravidar – neste caso, a idade pode acender um alerta.
Durante décadas, esta idade foi vista como um divisor de águas para a fertilidade feminina. Antes dos 35 anos, a teoria costuma ser de que a maioria das mulheres vai encontrar pouca dificuldade para engravidar, mas a partir deste momento a fertilidade despenca.
Para aquelas que engravidam mais tarde, existem até termos médicos específicos, como “gravidez geriátrica” e “maternidade em idade avançada”, usados para destacar esta circunstância.
Mas a realidade tem mais nuances, dizem os especialistas. É verdade que mais mulheres que se aproximam dos 40 anos vão ter mais dificuldades em conceber – e, em alguns casos, vão enfrentar mais riscos na gestação e no próprio parto – do que mulheres com entre 20 e 30 e poucos anos. No entanto, o declínio é contínuo, e não um precipício, e varia de uma mulher para outra.
“A partir dos 35 anos, a taxa de declínio acelera, em termos da qualidade e quantidade dos óvulos”, afirma a ginecologista obstetra Lorraine Kasaven, pesquisadora clínica da Universidade Imperial College London, no Reino Unido, com foco em fertilidade. “A taxa de declínio, no entanto, vai variar de indivíduo para indivíduo.”
A infertilidade – definida clinicamente como a incapacidade de engravidar espontaneamente após um ano de tentativas – se torna mais provável à medida que os futuros pais envelhecem.
Um dos maiores estudos sobre o tema, por exemplo, descobriu que, de 2.820 mulheres dinamarquesas que tiveram relações sexuais pelo menos duas vezes por semana, 84% das que tinham entre 25 e 29 anos, e 88% das que tinham entre 30 e 34 anos, e 73% daquelas com idade entre 35 e 40 anos, conceberam dentro de 12 ciclos menstruais.
É claro que não conseguir engravidar nesse período de tempo não significa que você nunca vai conseguir. Outro estudo mostrou que, das mulheres com 30 e tantos anos que não haviam concebido após um ano de tentativas, mais da metade engravidou naturalmente após dois anos, se o seu parceiro era mais jovem; se o parceiro tinha 40 anos, 43% conseguiam.
Para aquelas que buscam tecnologias de reprodução assistida, há ainda mais esperança. De acordo com os dados mais recentes, em 2020, por exemplo, 40,6% de todas as coletas de óvulos de pacientes do sexo feminino entre 35 e 37 anos nos EUA resultaram em nascidos vivos. É inferior à média de 54,1% para quem tem menos de 35 anos. Mas o declínio se mantém constante até a faixa etária de 38 a 40 anos, quando atinge 26,9%. Para pacientes com mais de 40 anos, cai para 9,3%. Claro, esta é a taxa de sucesso por coleta de óvulos. A pacientes que persistem em múltiplos ciclos têm chances ainda maiores.
Um estudo realizado com mais de 150 mil mulheres, por exemplo, concluiu que, em mulheres com menos de 40 anos, que utilizavam seus próprios óvulos, havia uma probabilidade de 68% de ter um nascido vivo com seis ciclos de fertilização in vitro (FIV). Para mulheres com idades entre 40 e 42 anos, a taxa de sucesso de seis ciclos foi menos da metade. (É importante observar, no entanto, que os dados agrupam todas as mulheres com menos de 40 anos, a idade média das participantes era de 35 anos).
Esses dados apontam para um declínio que vai acontecer em algum momento no final da década dos 30 anos. Mas também mostram que a maioria das mulheres com 30 e muitos anos vai conceber naturalmente dentro de um ano. E destacam que o verdadeiro momento decisivo pode ser aos 40, e não aos 35 anos.
“A maioria das mulheres tem dificuldade de engravidar quando tem mais de 40 anos, apesar de entrarem na menopausa com uma idade média de 51,7 anos”, diz Anja Bisgaard Pinborg, chefe do Departamento de Fertilidade do Hospital Rigshospitalet, em Copenhague, na Dinamarca, e professora de Medicina Clínica na Universidade de Copenhague.
Os novos 35 são os 38? Ou os 40 anos?
Uma revisão de estudos acadêmicos recente, por exemplo, analisou a probabilidade de mulheres definidas como inférteis conseguirem conceber espontaneamente, sem assistência médica, após um ano. Aos 35 anos, essas mulheres tinham 29% de chance. Essa taxa permaneceu estável até os 38 anos; após esta idade caiu mais rapidamente. Aos 39 anos, 25% das mulheres conseguiram; aos 40, 22%; aos 41, 18%; e aos 42,15%.
Mas até mesmo essa mudança precisa ser interpretada com cautela, ressalta o ginecologista obstetra Spencer McClelland, do Denver Health Hospital, nos EUA, que critica o foco que foi colocado na idade de 35 anos.
“Há uma mudança estatisticamente significativa na taxa de declínio aos 38 anos. Mas será clinicamente relevante? Talvez não”, diz ele.
“Será que 29% aos 35 anos é tão diferente de 22% aos 40 anos? Provavelmente, a maioria das pessoas não veria muita diferença nesses números. Portanto, seja da perspectiva da mulher ou de um médico, isso significa que não devemos reagir de maneira diferente a uma pessoa de 35 anos em comparação com uma pessoa de 40 anos quando se aconselha sobre fertilidade.”
Os estudos paroquiais do século 18 não são a única fonte do foco na idade de 35 anos. Outra é o cálculo do risco-benefício da amniocentese, diz McClelland.
Ele explica que, na década de 1970, a única forma de testar geneticamente um feto era por meio da amniocentese — que envolve a utilização de uma agulha para extrair líquido amniótico e, naquela época, era normalmente realizada para determinar a probabilidade de síndrome de Down.
O procedimento apresenta risco de aborto espontâneo. E com que idade o risco de um aborto espontâneo induzido por amniocentese era superado, matematicamente, pela possibilidade de síndrome de Down? Por volta dos 35 anos.
No entanto, ele afirma que até mesmo esse cálculo de risco-benefício está obsoleto agora. Hoje em dia, há cerca de uma chance em 500 de sofrer aborto espontâneo devido à amniocentese, em comparação com uma em 200 na década de 1970. Isso significa que o cálculo seria favorável à realização do procedimento numa idade mais jovem (32,5 anos) do que na década de 1970.
É algo “absurdo”, segundo McClelland, que as melhorias na segurança da amniocentese signifiquem que a idade em que definimos o risco relacionado com a gravidez seja mais jovem — e não mais velha.