Sexta-feira, 15 de novembro de 2024
Por Edson Bündchen | 12 de dezembro de 2019
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
No artigo que escrevi na semana passada, busquei trazer as ideias de maior impacto de alguns pensadores consagrados por prognosticar o futuro, todos eles com notável precisão. Hoje, com o mesmo brilho, Yuval Harari alerta que a humanidade terá que enfrentar problemas ainda maiores e de outra natureza, bastante mais graves do que os desafios que os seus predecessores puderam prenunciar.
Essa mudança no tom das preocupações reveladas por Harari, seria fruto somente do seu estilo austero ou estaríamos realmente diante de um abismo que pode engolir a sociedade tal como a conhecemos hoje? Yuval Harari aponta a lupa para três grandes ameaças: a necessidade de uma governança para a inteligência artificial (IA); uma coordenação adequada na gestão do risco para evitar uma guerra nuclear e, por fim, forte cooperação e articulação mundial na questão ambiental.
Segundo o consagrado autor, a IA tende a exigir forte cooperação internacional para a criação de marcos legais que imponham regras para a sua utilização. Livre de qualquer freio, a Inteligência Artificial tenderá a confrontar nossos atuais parâmetros éticos, nosso conjunto de leis e todo o aparato criado pela sociedade e que nos permitem, a despeito das enormes diferenças sociais existentes, conviver razoavelmente em paz. Máquinas que tomam decisões, assim como automóveis inteligentes, terão que ser alimentados por orientações que podem enfrentar dilemas morais: imagine uma situação na qual o carro autônomo se vê diante da opção de atropelar alguém na calçada para salvar o passageiro do veículo. Que decisão tomar? Quais as consequências legais? Essa e milhares de outras situações tendem a estimular um amplo e urgente debate ético sobre a emergência das máquinas cada vez mais inteligentes.
A segunda grande ameaça deriva da antiga e não resolvida questão nuclear. Mesmo passada a “guerra fria” e tendo sido destruído parte do arsenal nuclear, o mundo tem ainda ogivas nucleares suficientes para a completa destruição da vida na terra. O medo da destruição mútua conteve ânimos mais exaltados e evitou o pior. Nada, porém, garante que estejamos totalmente livres dessa ameaça sombria e terrível. Governos terão que continuar a articular um progressivo desincentivo a novos entrantes no restrito clube dos países que dominam a tecnologia atômica, além de fomentar gradual processo de destruição das bombas, bem como e talvez mais importante: avançar na ampliação da democracia e da paz mundial, únicos e legítimos escudos contra a hetacombe nuclear.
Por fim, Harari faz um apelo contundente contra a terceira grande ameaça que paira sobre as nossas cabeças: a destruição do planeta pelo próprio homem. Agir de modo sustentável na preservação da natureza deverá ser incentivado por apelos ainda mais dramáticos. Se corações ainda recalcitrantes não se comovem com um futuro distante, talvez pensem diferente quando a verdade inconveniente começar a cobrar seu preço no presente. Na semana que vem, completo a série de três artigos com uma visão daquilo que o Brasil está fazendo ou deixando de fazer em relação às preocupações de Harari.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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