Terça-feira, 26 de novembro de 2024
Por Dennis Munhoz | 16 de agosto de 2024
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Foi dada a largada. Biden desistiu (ou melhor desistiram dele), Trump indica seu candidato a vice-presidente e Kamala que esperava continuar como vice, apresenta seu colega de chapa.
Para quem esperava que as trocas de farpas, insultos, provocações, agressões verbais e tudo mais que a disputa política pode provocar ficasse a cargo de Trump e Kamala, enganou-se redondamente. Os vices vestiram a camisa e partiram para a disputa, ou melhor dizendo o confronto sem muito escrúpulo. Podemos dizer que as escolhas dos vices foram de certa forma surpreendente para a maioria do eleitorado, que em menos de três meses vai votar para presidente.
O primeiro a ser anunciado foi J.D. Vance do partido Republicano. Quem é ele e por que foi inesperado? Jovem político de 40 anos, serviu na Marinha dos Estados Unidos atuando na guerra do Iraque, advogado e atualmente senador pelo Estado de Ohio eleito em 2.022 com apoio de Donald Trump. Tudo parece perfeito, mas antes disto ocorreram algumas turbulências. Vance tornou-se conhecido como autor do livro “Era uma vez um sonho” antes das eleições de 2.016, que deu origem ao filme lançado em 2020, no qual narra o seu crescimento em Middleton e os problemas da classe operária na sociedade norte-americana. Tanto o livro quanto o filme foram sucesso de público e crítica. O título original é “Hillbilly Elegy” que em tradução livre seria “Eleja Caipira”. Antes de obter o apoio de Trump na eleição para o senado, Vance o chamou de “um idiota cultural” e “um possível Hitler americano”. Isto faz parecer a declaração de Alckmin em 2.018 quando afirma que o retorno de Lula ao poder seria “um retorno ao local dos crimes de corrupção associados ao seu governo”, quase um elogio.
Após anos de convívio, Vance mudou radicalmente seus conceitos sobre Trump o elogiando constantemente até antes da indicação, salientando a capacidade do ex-presidente de conectar-se com eleitores da classe trabalhadora e ótimo trabalho realizado na área da economia e imigração.
Apesar de ser apresentado como político de direita, apresentou projetos que agradaram até os democratas quanto ao salário mínimo, amparo social e preocupação com a classe trabalhadora. Criticou duramente Tim Walz (vice na chapa de Kamala) no que diz respeito à carreira militar, comparando com a dele: “Quando o Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos da América me pediram para ir ao Iraque para servir meu país, eu fui. Fiz o que eles me pediram e fiz isso com honra, estou orgulhoso desse serviço. Quando Tim Walz foi solicitado por seu país a ir para o Iraque, sabe o que ele fez? Ele saiu do exército e permitiu que sua unidade fosse sem ele”.
O respeito pelos veteranos aqui nos Estados Unidos é enorme e os eleitores observam com muita atenção este aspecto.
Quem é Tim Walz e o que ele pensa. Tem 60 anos e é o atual governador do Estado de Minnesota, começou sua carreira política em 2.006 como deputado e foi membro da Guarda Nacional do Exército dos Estados Unidos. Cresceu em uma fazenda no Nebraska e tem popularidade nas camadas brancas e rurais dos chamados Estados pêndulos (aqueles que oscilam entre Democratas e Republicanos nas eleições presidenciais). Tem postura progressista e posiciona-se favoravelmente ao aborto, uso recreativo da maconha, medidas restritivas ao porte de arma e apoio irrestrito aos grupos LGBTQIA +. Não perdeu tempo em atacar os candidatos republicanos afirmando: “Com seu número dois (Vance), ele (Trump) compartilha das mesmas crenças perigosas e retrógadas”. “Donald Trump e JD Vance são assustadores e, sim, estranhos”.
A real intenção de Kamala ao indicar seu vice é de alcançar o eleitorado conservador que resiste a Donald Trump e até aceita com restrições as ideias progressistas de Walz. Os democratas notaram que necessitam de postura um pouco mais moderada, caso contrário não vão conseguir votos importantes entre os eleitores simpatizantes dos republicanos mas que rejeitam Trump. Foi a escolha certa? Teria outra opção melhor? Muito se comenta que os democratas mesmo com a saída de Biden acham que a vitória de Trump é inevitável.
Aceitar o cargo de vice-presidente na chapa de Kamala seria praticamente encerrar as pretensões políticas, senão vejamos: Com a possível vitória de Trump o candidato a vice derrotado muito provavelmente não iria ter espaço na eleição de 2.028. Algumas figuras de destaque no partido democrata preferiram esperar mais um pouco, quem sabe vislumbrando horizonte melhor nas eleições de 2.028, onde mesmo Trump vencendo agora, não poderá concorrer novamente. Difícil afirmar quem tem razão. Paciência é uma virtude ou quem sabe faz hora e não espera acontecer?
* Dennis Munhoz é jornalista, foi presidente da TV Record e superintendente da Rede TV, atualmente atua como correspondente internacional, vice-presidente da Associação Paulista de Imprensa, apresentador e jornalista da Rede Mundial e Rede Pampa nos Estados Unidos.
* dennismunhoz@me.com
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