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Quando tudo (ou nada) muda

Ao derredor, os que estavam não estão. A porta permanece aberta e parece que os de antes, já tão poucos, aprestam-se para sair. Não sabem o que encontrarão; talvez o silêncio, o mistério, as sombras, o vazio total.

– Confesso que busco a minha resposta. Aliás, busco a mim mesmo. Naqueles tantos e quantos, havia um olhar – quase padrão  de pessoas que iam e vinham.

– Parece que no desencontro de retas e curvas, nas quais trafego, ás vezes com esperanças, noutras, com desespero. E, de longe via o menino. Tão distante e tão próximo.

– Escrevi lembranças, para o garoto, recordando as visões, o balanço pacífico, diria mais: doce, isto é, das águas do Atlântico. Peneiravam meus filamentos cerebrais. Queria chegar a origem. Reafirmo a duvida que inquieta: continuo quase solitário.

Os de antes, cada vez mais poucos, alertaram da mensagem que se espraiava, fazendo com que se sentisse a fatia de solidão que se soltava. Descobri que, seguindo aquela cena a solitude, simultaneamente dizia que nada mais e muito mais era a idade adulta da solidão.

– Pode nos trazer, o bem estar, de ósseo, de comodismo, ou de exclusão. Difícil de definir. Impossível de conceituar. Pode vir orgulhosamente com a força do empenho.

Enfim, entre flashes e a luz que se apaga, uma imagem sobrepõem-se naquele quase caos, onde consigo registrar que descendo do Homem, cheio de afeição com duas pátrias e uma só palavra.

E tudo teria começado com um menino que saiu do porto onde embarcara para domesticar o monstro pacífico dos mares. Na verdade, desconfiava do porquê e de onde saia.

Tinha a ignorância inocente de lembrar muito do pouco que deixara, quando da popa do transatlântico – na memória desenhada – lançara um olhar de hoje para tentar ver tudo de ontem, que deixava para o amanhã – ainda não sabia bem aonde – e do que não sabia que seria construtor.

E tudo teria começado com um menino de dez anos.

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