Sábado, 12 de abril de 2025
Por André Charone | 11 de abril de 2025
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Quando se fala em violência no Brasil, o foco costuma estar nos números de homicídios, assaltos e crimes patrimoniais. Mas, além de cada estatística policial, há também um custo silencioso, invisível à maioria da população, mas profundamente corrosivo para a economia nacional.
A violência custa ao Brasil cerca de 11% do PIB, ou seja, mais de R$ 1 trilhão por ano, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e estimativas de impacto econômico. É quase como se o país perdesse um Estado de Minas Gerais inteiro em valor econômico, anualmente, apenas tentando lidar com os efeitos diretos e indiretos da criminalidade.
Estamos falando de um dos maiores custos estruturais do Brasil. A violência compromete investimentos, afasta o turismo, pressiona os gastos públicos e impõe um custo altíssimo às empresas e famílias. É uma sangria constante que trava o desenvolvimento econômico.
A conta que não fecha
De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o Brasil registrou 46.328 mortes violentas intencionais em 2023, o menor número desde 2011, mas ainda alarmante. Isso equivale a 22,8 homicídios a cada 100 mil habitantes, uma taxa ainda elevada para padrões internacionais.
A cada assassinato, não é apenas uma vida que se perde. Segundo estimativas do Ipea, cada morte custa em média R$ 1 milhão aos cofres públicos, considerando gastos com sistema de saúde, previdência, segurança, processos judiciais e perda de produtividade. O total anual ultrapassa R$ 46 bilhões apenas com homicídios.
E isso é apenas a ponta do iceberg
Quando uma cidade enfrenta altos índices de violência, há desvalorização imobiliária, evasão escolar, retração do comércio e perda de produtividade nas empresas. Esse impacto indireto é ainda mais difícil de mensurar e mais profundo.
Segurança pública: uma fatura bilionária
Só em 2023, os governos federal, estaduais e municipais desembolsaram R$ 124,8 bilhões em segurança pública, com os estados sendo responsáveis por mais de R$ 101 bilhões desse total. O número representa um crescimento em relação à década passada, mas ainda está longe de garantir uma sensação efetiva de segurança para a população.
Esse gasto, porém, não abrange outros custos associados, como os da justiça criminal, sistema penitenciário e saúde pública.
O SUS, por exemplo, gastou R$ 41 milhões em 2022 apenas com internações por ferimentos causados por armas de fogo, um número que não inclui atendimentos ambulatoriais, cirurgias de emergência, reabilitação e os custos psicológicos para vítimas e familiares.
O impacto no setor privado
A violência também é um peso para o setor produtivo. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), empresas gastam, em média, 1,7% do PIB com segurança privada, o que representa aproximadamente R$ 170 bilhões por ano. São recursos que poderiam estar sendo investidos em inovação, expansão ou geração de empregos.
Já vi empresas abandonarem regiões inteiras por conta da criminalidade. Isso afeta empregos, renda e arrecadação. A violência distorce decisões empresariais e amplia ainda mais a desigualdade regional.
Além disso, empreendimentos localizados em áreas violentas sofrem com queda no fluxo de clientes, aumento do custo do seguro e rotatividade de funcionários. A insegurança virou um fator econômico que pesa no balanço das empresas.
O custo da violência para o futuro
A violência não é apenas um problema do presente ela compromete o futuro. Jovens que abandonam a escola por medo, trabalhadores que perdem produtividade por trauma ou estresse, famílias desestruturadas… tudo isso tem um preço. E ele não aparece nas planilhas do governo, mas na redução da força de trabalho qualificada e na perpetuação da pobreza.
No estado do Rio de Janeiro, por exemplo, um estudo da Confederação Nacional do Comércio (CNC) estimou que os crimes violentos geram perdas anuais de até R$ 11,48 bilhões, cerca de 0,9% do PIB fluminense.
A violência afeta a educação, a empregabilidade e a mobilidade social. Ela é, ao mesmo tempo, causa e consequência da desigualdade. E qualquer país que queira crescer precisa enfrentar esse ciclo com seriedade.
É possível virar o jogo?
Embora o cenário pareça desanimador, há exemplos de que políticas públicas bem coordenadas podem fazer diferença. É possível reduzir drasticamente índices de criminalidade com estratégias que integram segurança, urbanismo, educação e uso de tecnologia.
Investir em educação de base, cultura, esporte e infraestrutura urbana é uma política de segurança pública de longo prazo.
O Brasil precisa tratar a violência como uma variável econômica, e não apenas como um problema de polícia. Quando o custo da violência entra na mesa do ministro da Fazenda, do empresário e do cidadão comum, as soluções passam a ser tratadas com a urgência que merecem.
O rombo invisível
A violência no Brasil custa caro. Muito caro. E enquanto esse custo for tratado como algo isolado do debate econômico, o país continuará remando contra a maré. O combate à criminalidade não é apenas uma questão de justiça social, é uma condição essencial para que o Brasil avance de verdade.
* André Charone, consultor financeiro e mestre em negócios internacionais
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.