Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 17 de dezembro de 2023
O médico João Batista do Couto Neto foi preso na última quinta-feira enquanto atendia em um hospital da cidade de Caçapava, interior de São Paulo. Ele é suspeito de causar a morte de 42 pacientes e lesões em outros 114, em Novo Hamburgo, região metropolitana de Porto Alegre.
Relatos de antigos pacientes e ex-colegas do médico dão conta de que Couto chegava a realizar quase 30 cirurgias por turno de trabalho, fazia procedimentos desnecessários e deu um diagnóstico de câncer raro falso.
Couto teve a prisão preventiva decretada após ser indiciado pela Polícia Civil por homicídio doloso (quando há intenção de matar) em três inquéritos, no fim de novembro. Segundo o titular da 1ª DP de Novo Hamburgo, Tarcísio Kaltbach, ainda restam 39 investigações de homicídio e 114 de lesão corporal envolvendo o cirurgião.
Ainda de acordo com Kaltbach, a finalização de novos inquéritos contra Couto depende de laudos a serem enviados pelo Departamento Médico Legal de Porto Alegre.
Registro no Cremesp
Em fevereiro deste ano, João Couto se registrou no Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp). Na ocasião, o Cremesp confirmou estar ciente de que o médico enfrentava uma suspensão em sua licença, mas que “é obrigado a efetuar o registro do médico” por se tratar de uma restrição parcial.
O Cremesp informou ainda que o médico “é do Rio Grande do Sul e possui registro principal e ativo no CREMERS“. Embora possua registro secundário em São Paulo, a apuração das denúncias, segundo o Cremesp, “cabe às autoridades e ao Conselho do Rio Grande do Sul”.
Desde outubro deste ano, não há medida cautelar que impeça que João Couto volte a realizar cirurgias e intervenções invasivas. Havia uma decisão da Justiça, prevendo a proibição por 120 dias, cujo prazo expirou.
O advogado Brunno de Lia Pires, que representa o médico, informou que a prisão é “absurda e imotivada” e que vai entrar com pedido de habeas corpus.
Câncer falso
A motorista Simone Ferreira Campos afirma que foi operada há 11 anos por João Couto Neto para retirar um nódulo no intestino. “Retirou do meu intestino, segundo ele me falou quando eu voltei da anestesia, 10 centímetros para cima do nódulo e 10 centímetros para baixo do nódulo do meu intestino, pois eu teria um câncer muito raro que ele não saberia como tratar”, conta.
No entanto, após uma biópsia, foi comprovado que a paciente não tinha câncer. “Veio como endometriose. Então, não tinha nenhum tipo de câncer, nenhum problema do meu intestino”, diz.
30 cirurgias por manhã
Uma técnica de enfermagem que trabalhou no mesmo hospital que João Couto Neto diz que o número de cirurgias diárias que o médico fazia chamava a atenção da equipe.
“Ele fez em uma manhã, 27 cirurgias, uma manhã só. Não é possível, porque teria que ficar parado esperando um paciente atrás do outro na mesma mesa. Não tem como, até porque a aparelhagem não é suficiente para isso, a instrumentação não é suficiente para isso”, afirma a profissional, que prefere não ser identificada.