Domingo, 13 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 10 de abril de 2025
Uma nova análise conduzida por um time internacional de pesquisadores concluiu que um milhão de crianças podem ser infectadas com o vírus HIV até 2030 na região da África Subsaariana, e quase meio milhão podem morrer pela síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids), devido aos cortes no financiamento de programas assistenciais pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Os cientistas pedem ações urgentes para garantir a continuidade das iniciativas no continente e manter os esforços para prevenir o avanço da doença pelo mundo. O estudo, que avaliou a interrupção específica do Plano de Emergência do Presidente para Alívio da Aids (PEPFAR), dos EUA, foi publicado na revista científica The Lancet nesta semana.
O plano foi estabelecido pelo governo americano ainda em 2003 e, desde então, já forneceu mais de 120 bilhões de dólares, o equivalente a cerca de 727 bilhões de reais na cotação atual, para o tratamento e a prevenção do HIV e da Aids pelo mundo. Estimativas apontam que o programa salvou mais de 26 milhões de vidas e garantiu que 7,8 milhões de bebês nascessem sem o vírus.
No momento, o PEPFAR apoia mais de 20 milhões de pessoas com acesso a métodos preventivos e medicamentos, especialmente na África Subsaariana. Porém, com os cortes recentes de Trump, que pausou por 90 dias o financiamento de todos os programas de ajuda humanitária conduzidos pelo país, é incerto o futuro da iniciativa.
Segundo os pesquisadores, apesar de o PEPFAR ter recebido uma isenção limitada para dar continuidade a algumas ações, muitos serviços realizados pelo programa estão interrompidos ou completamente suspensos desde 20 de janeiro de 2025.
“O futuro dos programas do PEPFAR está em jogo. Perder o apoio estável e de longo prazo faz com que o progresso global para acabar com o HIV/Aids volte à idade das trevas da epidemia, especialmente para crianças e adolescentes”, alerta uma das líderes do estudo e professora da Universidade de Oxford, no Reino Unido, Lucie Cluver, em comunicado.
“Uma retirada repentina dos programas do PEPFAR, especialmente na ausência de uma estratégia de longo prazo para substituí-los, poderia levar a um ressurgimento das infecções por HIV e mortes evitáveis, além de um aumento dramático no número de crianças órfãs devido à Aids nos próximos anos. Um retrocesso que poderia corroer duas décadas de progresso”, continua a especialista.
Ao todo, o trabalho estimou um milhão de novas infecções e 460 mil mortes entre crianças nos próximos cinco anos no continente africano sem o financiamento americano. Além disso, 2,8 milhões podem se tornar órfãs devido à doença.
De forma mais ampla, um outro estudo, conduzido pelo Instituto Burnet, na Austrália, em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS), analisou dados de 26 países e estimou que o corte de recursos internacionais, especialmente advindos do PEPFAR, podem resultar em um adicional de até 10,75 milhões de infecções e 2,93 milhões de mortes, além do esperado, pelo mundo também durante os próximos cinco anos.
No trabalho mais recente, os autores defendem medidas para tornar os programas mais eficientes e sustentáveis, com modelos de transição para que os países africanos não sejam prejudicados pelo fim do financiamento americano. Segundo os pesquisadores, as nações assistidas já vêm aumentando progressivamente o cofinanciamento de seus sistemas de saúde, saindo de um investimento de 13,1 bilhões de dólares, em 2004, para 40,7 bilhões, em 2021.
“O que é urgentemente necessário agora é uma transição bem planejada para a expansão da propriedade nacional dos programas do PEPFAR, que levará adiante esse trabalho que salva vidas e oferecerá estabilidade e sustentabilidade para os países que atualmente dependem do apoio do PEPFAR agora e no futuro, o que, por sua vez, também beneficia os EUA e solidifica sua posição como líder global no esforço para acabar com o HIV”, argumenta o pesquisador da Universidade de Kwazulu-Natal, na África do Sul, e um dos autores do estudo, Chris Desmond. (Com informações do jornal O Globo)