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Quase 90% dos apostadores online acumulam dívidas: 64% deles agora estão com o nome sujo

Dados chamam atenção para os hábitos problemáticos dos apostadores e para os riscos do vício em jogos. (Foto: Bruno Peres/Agência Brasil)

Com o crescimento das apostas online, conhecidas como “bets” se acendeu um sinal de alerta para os perigos que esses jogos de azar representam para a saúde financeira dos brasileiros. Segundo pesquisa do Instituto Locomotiva, 86% dos apostadores já contraíram dívidas e 64% deles estão com o nome negativado no Serasa. Esses dados também chamam atenção para os hábitos problemáticos dos apostadores e para os riscos do vício em jogos.

De acordo com o Banco Central, somente em agosto, último dado, mais de R$ 20 bilhões foram apostados via Pix, sendo que R$ 3 bilhões vieram de beneficiários do Bolsa Família. Ou seja, dinheiro que deveria ser destinado a despesas básicas está sendo usado em jogos. “Um grande problema das apostas, principalmente para as famílias d e baixa renda, é que quando a gente desvia valores que seriam utilizados para questões básicas, como alimentação, energia e transporte para apostas, vira uma bola de neve e a pessoa deixa de honrar pagamentos básicos por causa das apostas”, explica o consultor financeiro Raphael Carneiro.

“A gente vive em um país onde o orçamento das pessoas é muito apertado e o poder aquisitivo é baixo. Isso faz com que sobre pouco. Logo, as pessoas precisam se planejar bastante para conseguir fazer grandes aquisições e isso empurra as pessoas a tentar um caminho mais fácil e as apostas parecem ser esse caminho”, explica o consultor financeiro Paulo Neto, sobre possíveis fatores que levam os brasileiros a criarem o hábito de apostar.

Segundo uma pesquisa feita pela Serasa, 46% dos inadimplentes já apostaram alguma vez na vida. Desse total, 44% apostaram em busca de dinheiro para quitar suas dívidas. Para elaborar a pesquisa “Bets e endividados: A relação dos endividados com apostas no Brasil”, foram entrevistados 4463 consumidores acima de 18 anos que constam na base cadastral da Serasa. Os dados apresentados também revelam outros costumes preocupantes em uma cenário delicado: 13% dos endividados já deixaram de pagar contas para realizar apostas. Dos apostadores, 32% afirmam ter perdido mais dinheiro do que ganharam e 30% já sofreram com fraudes em sites.

É importante que haja um equilíbrio entre as apostas como forma de lazer e a saúde financeira dos apostadores. “Se eu escolho pegar parte do meu orçamento e apostar, ela deve ser a parte do orçamento que eu reservei pra divertimento, lazer. Eu vou abrir mão de outros tipos de lazer por conta disso, é uma escolha. O que não pode é você ter que apostar para resolver um problema. E não pode você sair do controle da sua vida financeira”, recomenda Paulo Neto.

O estudante de fisioterapia Paulo Bastos, apesar de apostar com regularidade, tenta manter hábitos responsáveis associados às bets. “Eu tento ser responsável, sempre separo o dinheiro das minhas despesas e dos meus compromissos antes de botar em alguma casa de apostas. Já vi amigos se afundando em dívidas na vontade de recuperar o que perdeu, mas eu prefiro parar quando começo a perder. Geralmente eu estipulo um valor limite e divido esse em várias apostas menores, se ganho, saco o lucro e mantenho o valor limite para o dia seguinte”, conta.

Quando alguém já está endividado, o recomendado é tomar atitudes mais extremas. “Nesse caso o primeiro passo é sair de todos os sites e aplicativos, bloquear os acessos, trocar senha para não permitir em um momento de fraqueza acessar esses sites, fazer um compromisso com parente, esposo, esposa, pai, mãe, filho, filha, com pessoas próximas para uma fiscalização maior. Deixar os sites de lado e buscar no dia a dia formas de se reequilibrar financeiramente. O primeiro passo desse reequilíbrio após não ter mais esses acessos é entender o tamanho da dívida para a partir daí traçar uma estratégia de quitação”, aconselha Raphael.

A educação financeira também pode ser uma arma importante para quem busca evitar o gasto desnecessário com os jogos. “A conscientização é um trabalho de longo prazo que requer repetição, cuidado, alerta sobre os riscos. Podem ser utilizados depoimentos de pessoas que tiveram problemas, por exemplo, mostrando esses problemas para quem não tem conhecimento. Mas até essa conscientização atingir um patamar satisfatório, é importante algumas medidas que evitem ou minimizem prejuízos como por exemplo: não poder usar cartão de crédito, limitar o valor que cada pessoa pode apostar por mês, pagamentos só por transferência ou Pix, porque quando a pessoa faz o pagamento no cartão, ela está jogando aquela dívida para o mês que vem não é o dinheiro que ela tem hoje”, indica Raphael Carneiro. As informações são do jornal A Tarde.

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