Sábado, 26 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 15 de março de 2023
Em um País com 8,6 milhões de desempregados – um contingente equivalente a toda população da Suíça –, quatro Estados enfrentam uma realidade diferente, com uma disputa intensa pela mão de obra.
Em 2022, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia e Santa Catarina encerraram o ano com uma taxa de desocupação abaixo de 4%, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua Trimestral, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Enquanto isso, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Amapá continuam com taxas acima de 10%.
Os números positivos do mercado de trabalho de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia podem ser explicados pelo bom desempenho do agronegócio nos últimos anos, o que ajudou a estimular toda a economia local.
“De um modo geral, são Estados com um conjunto de atividades relacionadas ao agronegócio”, afirma Ezequiel Resende, coordenador da unidade de economia, estudos e pesquisa da Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul (Fiems).
A força do agronegócio não beneficiou apenas o setor nesses Estados, mas toda a cadeia ligada a ele – como produção de máquinas. Em 2023, por exemplo, a expectativa é a de que o País colha uma safra recorde de grãos, alcançando 298 milhões de toneladas, um crescimento de 13,3% em relação a 2022 (34,9 milhões de toneladas).
Em Rondônia, porém, apesar do agro movimentar o mercado de trabalho, a baixa taxa de desemprego também está associada à reduzida participação da força de trabalho. Enquanto no Brasil, no ano passado, 62,4% da população em idade de trabalhar estava empregada ou buscava emprego, em Rondônia, esse número era de 60,5%. Essa diferença sugere que, no Estado, há uma busca menor por ocupação, segundo o economista Lucas Assis, da consultoria Tendências.
Já em Santa Catarina, a baixa taxa de desemprego tem uma explicação que vai além do agronegócio. A diversificação da economia torna improvável uma explosão no desemprego mesmo quando o País enfrenta crises severas. Nessas ocasiões, quando um segmento da economia catarinense passa por dificuldades graves, costuma haver outro indo bem para compensar.
Na cidade de Itajaí, no litoral do Estado, a empresária Mirela Raupp diz que tem saudades do tempo em que era “assediada” por trabalhadores em busca de uma vaga de emprego em seu café. “Não precisávamos ir atrás das pessoas para contratar. Eles vinham até a gente.” Hoje a situação é oposta: “Temos de correr atrás, colocar anúncio, procurar no balcão de empregos (da prefeitura) e nas redes sociais. E isso não significa ter sucesso para encontrar um profissional.”
Atualmente, ela tem duas vagas abertas no estabelecimento, mas não consegue preencher. “Algumas pessoas respondem aos anúncios, mas quando sabem que precisa trabalhar aos domingos, desistem. Quando começam a trabalhar, ficam um mês e vão embora.”
Na cidade, os pequenos negócios sofrem ainda mais com o problema de falta de mão de obra, pois competem com grandes companhias que oferecem um pacote mais atrativo de benefícios. Hoje Itajaí tem o segundo maior PIB de Santa Catarina, a frente da capital Florianópolis.
Com mais de 220 mil habitantes, a cidade tem uma economia baseada nas atividades portuárias. Além do porto público de Itajaí, o Porto de Navegantes, localizado do outro lado do rio na vizinha Navegantes, movimenta a economia local. De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, o maior gerador de empregos no município é o setor de serviços, que engloba a cadeia logística, seguido por indústria e comércio.
O verão deste ano deixou evidente o gargalo de mão de obra no setor de bares e restaurantes de Santa Catarina. Um levantamento feito pela unidade do Estado da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) mostrou que quase 64% dos estabelecimentos tiveram dificuldade para encontrar trabalhadores qualificados.
Foi o principal problema apontado pelos empresários do setor. Em segundo lugar, apareceu o custo com insumos (54%). “É um gargalo bem grande. Há vagas de trabalho em vários setores e acaba diminuindo (a oferta de mão de obra) para o nosso”, afirma Juliana Mota, presidente da Abrasel de Santa Catarina.
O Estado é o que aparece com mais frequência no topo do ranking daqueles com menor taxa de desemprego do País desde o início da série histórica da Pnad Contínua, em 2012. No ano passado, a taxa ficou em 3,2%.
Em Sinop (480 quilômetros ao norte de Cuiabá), o produtor rural Moises Debastiani contrata funcionários temporários do Paraná, de Rondônia e de Goiás. Do total de trabalhadores que precisa para realizar as colheitas e os plantios, 40% vêm de fora.
Debastiani conta também que, na região de Sinop, quando alguém pretende construir em casa, precisa fechar com os trabalhadores cerca de seis meses antes do início das obras. “Tem de acordar com a pessoa para que, quando ela acabar a obra que está fazendo, vá para a sua”, diz ele.
Presidente da Associação dos Criadores do Norte de Mato Grosso (Acrinorte), Debastiani diz ainda ter conhecidos que compraram caminhões de grande porte e levaram 60 dias para conseguir contratar motoristas. “Em qualquer setor aqui em Sinop, falta gente para trabalhar com qualificação”, diz.
De acordo com o gerente de economia da Federação das Indústrias no Estado de Mato Grosso (FIEMT), Pedro Máximo, a agroindústria é a que vem aquecendo o mercado de trabalho local, que registrou taxa de desocupação de 3,5% em 2022. Produção de carne resfriada, farelo de soja, etanol a partir do milho e da cana estão entre as atividades que mais vêm empregando. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.