Sexta-feira, 25 de abril de 2025
Por Gelson Santana | 25 de abril de 2025
Hoje existem mais de 2 mil propostas que seguem sem previsão de votação.
Foto: ABrEsta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Ao acompanhar o resultado da votação do pedido de urgência e aprovação, do PL da Anistia, fez minha memória me remeter aos meus vinte e poucos anos, no início da minha jornada como trabalhador da construção, e às músicas que tocavam no meu radinho de pilha. O que emergiu foi um sucesso da Legião Urbana: Que País é Este?
Desde então, torço e trabalho para que a música não fosse mais expressar a indignação de uma realidade. Passa ano, entra ano, ela continua atual. Infelizmente.
Diante dessa realidade, além da música, vieram à tona dois questionamentos:
O primeiro é como pode o mesmo ter tido mais da metade das 262 assinaturas de deputados de partidos que compõem a base do governo Lula? Esse é o tal modelo de governo de coalizão? Sim. Sabemos que o problema desse modelo é dar aos parlamentares, que em tese apoiam o governo, um enorme poder. Os apoiadores cobram um preço alto pela manutenção do seu apoio. Ou se aproveitam de fatos novos para negociar outros benefícios.
O segundo é que existem diversas propostas mais importantes e que impactam diretamente na vida da população, que mereciam atenção muito antes desse PL e que estão paradas. Entre eles: proteção de pessoas com deficiência, combate à violência contra a criança e adolescentes, proteção de mulheres em espaços de poder e a criação de um programa de reconstrução dentária, no sistema SUS, para mulheres vítimas de violência doméstica. Mais ainda. O PL das Fake News aprovado pelo Senado em 2020, mas que, está parado na Câmara, e também mudanças na Lei Maria da Penha.
Hoje existem mais de 2 mil propostas que seguem sem previsão de votação. Entre todas as proposições citadas também está a taxação dos mais ricos, que precisa ser implementada, pois, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil conta com cerca de 413 mil milionários, entretanto, em 2022, voltou a aparecer no mapa da fome, evidenciando como o acúmulo de capital propícia à pobreza e a miséria. Outra pauta que precisa avançar é a da PEC contra a escala 6 X 1, sendo a demanda número 1 para os trabalhadores e necessitará de muito esforço do governo para sua aprovação. O cenário é desfavorável para essa conquista.
Certamente nesse contexto, a música, que alguns escutam lá na Câmara, é Tô Nem Ai.
Voltando a Que País é Este, que ouvi a primeira vez lá nos anos 80, fui pesquisar e descobri que a letra foi escrita pelo Renato Russo em 1978 e falava do que estava acontecendo politicamente no país em 1978, durante a Ditadura Militar e diz “no Senado sujeira para todo lado…” fazendo referência aos Senadores Biônicos, o presidente era Ernesto Geisel que aprovou o chamado “Pacote de Abril”, com uma série de medidas que visavam dar mais poder ao governo e garantir que ele estivesse em maioria no Senado. Aliás, essa receita parece que continuou sendo utilizada.
Ainda sobre o autor, ele disse “não é uma pergunta, é uma exclamação. Porque quem me diz que país é este são as pessoas que vivem aqui. A gente tem um material fabuloso a ser trabalhado aqui no Brasil.…Tem muita gente trabalhando, tem muita gente fazendo muita coisa boa. O Brasil também é um país do primeiro mundo…Agora, só para uma parte das pessoas.”
Portanto penso que é fundamental lembrar tudo isso para que em 2026 não esqueçamos , muito antes de votar, de escolher aqueles que não querem o nosso Brasil continue fazendo jus a letra Que País é Este. Que seja somente um sucesso musical para embalar a memória do nosso passado.
(Gelson Santana Presidente do STICC e Secretário Nacional dos Trabalhadores da Construção Civil , Construção Pesada e em Montagem Industrial UGT)
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.