Sábado, 16 de novembro de 2024
Por Matheus Macedo | 8 de janeiro de 2021
A Revolução Farroupilha tinha motivações puramente econômicas.
Foto: ReproduçãoEsta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
A escravidão tem origem na Antiguidade e teve as mais diversas motivações: política, religiosa, étnica, etc. São registros históricos da escravidão o Código de Hamurabi, de 1860 a.C., e passagens do Antigo Testamento nas quais fica claro o grande temor do povo de Israel de ser derrotado em campo de batalha e escravizado. Os impérios grego e romano também se valeram da prática.
Como parte integrante do império português e, posteriormente, do recém-criado Estado brasileiro, a Província de São Pedro do Rio Grande também se valeu da escravidão, prática comum e legal no Brasil da época. O racismo inegavelmente vem junto a ela, o que jamais pode ser renegado a segundo plano. Os valentes lanceiros negros, por exemplo, responsáveis por tantas vitórias farroupilhas, foram enganados pela promessa da liberdade não cumprida e brutalmente assassinados em um episódio que eternamente maculará nossa história e jamais poderá ser esquecido.
A Revolução Farroupilha, no entanto, tinha motivações puramente econômicas. A liberdade prometida aos negros foi a moeda de troca encontrada para contratar sua mão de obra boa e barata que, aliás, com grande galhardia, nos defendeu durante a guerra. O movimento nunca teve qualquer tipo de apelo ideológico, e os escravos referidos no hino são todos os habitantes da Província. Segundo o ideal farroupilha, todos deveriam se engajar na causa por melhores condições de vida, jamais apenas os de uma cor ou outra.
Dizer que o hino do nosso estado tem cunho racista ou, pior ainda, insinuar que os escravos referidos são os negros, como fez recentemente um vereador da Câmara Municipal de Porto Alegre, é atitude vil e covarde. A afirmação, vinda de um mestrando da nossa universidade federal, denota o sucateamento do nosso sistema de ensino superior público, bem como o forte aparato ideológico ao qual vem sendo submetido.
Em um momento no qual nossa cidade e nosso estado enfrentam desafios colossais, é inadmissível a desrespeitosa postura do parlamentar. Com referência histórica extremamente pobre, atitudes como essa são pensadas para quebra da ordem e da harmonia, além de destruição da nossa cultura, grande sonho da esquerda. Nossa reação como sociedade começa em repudiar atitudes como essa e escolher melhor nossos representantes. Ou não somos mais um povo de virtude?
Matheus Macedo — Associado do IEE
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.