Quarta-feira, 30 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 11 de fevereiro de 2017
Em meio a sinais de que o Brasil está saindo da recessão que se estende por quase três anos, economistas iniciaram um debate sobre o caminho para que o País atinja juros mais compatíveis com padrões internacionais, sem o risco de alta da inflação.
Depois de três cortes consecutivos nos últimos meses, a Selic (taxa básica de juros) foi reduzida para 13% ao ano em janeiro, na esteira da queda da inflação. Embora seja o patamar mais baixo no Brasil em quase dois anos, é uma das mais elevadas do mundo e acima da de seus pares na América Latina.
A grande questão que retornou ao debate dos economistas é: por que, após quase duas décadas da introdução do regime de metas de inflação, o País ainda convive com juros tão elevados? Por esse sistema, o BC (Banco do Brasil) persegue a inflação considerada compatível com o crescimento da economia. A receita econômica clássica prevê que, se os preços saem de controle, o BC deve subir juros para inverter a tendência e levar a inflação de volta para a meta.
Juros mais altos encarecem o custo do crédito, freando o consumo e, consequentemente, reduzindo preços. O cenário contrário também é previsto pela academia e aplicado na prática. Mas e se a teoria estiver errada? E se o juro alto no Brasil for causa, e não consequência, da inflação elevada? A dúvida foi levantada em artigo recente de André Lara Resende, um dos formuladores do Plano Real.
Quem vem antes?
Segundo o economista, novas pesquisas indicam que, no longo prazo, juros altos provocariam, na verdade, inflação maior. Esse mecanismo seria explicado pelas expectativas de consumidores, investidores e empresários.
O setor público se financia com a emissão de títulos da dívida, e os juros corrigem o valor que o governo paga aos investidores desses papéis.
À medida que a taxa básica sobe, os agentes econômicos passariam a temer que o governo tenha dificuldades em pagar o que deve e tenderiam a vender os títulos públicos. Essa fuga levaria à desvalorização da moeda, reduzindo seu poder de compra e gerando inflação. O instrumento mais eficiente de combate à inflação, segundo Resende, seria, portanto, disciplina fiscal. A confiança dos agentes econômicos na sustentabilidade das contas públicas levaria a expectativas inflacionárias mais benignas.
O artigo causou rebuliço entre economistas. A maioria concorda com a necessidade de que as políticas fiscal e monetária se reforcem para que a inflação não saia do controle. É também ponto pacífico que o Brasil precisa discutir as causas de juros persistentemente elevados.
A crítica feita por muitos ao artigo é em relação à suposta ineficiência da política monetária e à sugestão do economista de que os juros poderiam ser reduzidos no Brasil, independentemente do patamar da inflação. Tudo indica que juros e inflação permanecerão no centro do debate nos próximos meses. (Folhapress)