Os debates entre os candidatos a Presidente são tradição nos Estados Unidos. O primeiro ocorreu em 1.960, colocando lado a lado Richard Nixon e John F. Kennedy. Nas eleições posteriores os debates caíram no esquecimento, sendo retomados apenas em 1.976 entre Gerald Ford e Jimmy Carter.
Durante anos verificamos a significativa queda de nível político para dar espaço ao sensacionalismo e ataques pessoais de ambas as partes. Mesmo assim a maioria dos eleitores e telespectadores tem curiosidade sobre a polêmica que envolve os debates e, por mais que reclamem, no final não deixam de assistir mesmo que seja apenas uma parte.
Na última terça-feira a regra se cumpriu, ou seja, poucas propostas consistentes, fuga de assuntos vitais que podem afetar a vida dos eleitores, com a famigerada troca de ofensas e propostas genéricas. A troca de farpas também não é novidade por aqui. O posicionamento um pouco mais agressivo de Kamala foi surpreendente. Ela soube se colocar e até tirar Trump do sério em algumas ocasiões, mas falhou quando tentava afastar-se das responsabilidades da atual administração da qual ela é a Vice-presidente em exercício.
Ela tentou afastar-se o máximo possível dos erros e omissões do governo Biden, principalmente no que diz respeito à imigração ilegal e inflação. Segundo pesquisas recentes estes são os principais problemas segundo os eleitores e não é aceitável que sejam tratados de forma superficial e com frágeis promessas futuras. Kamala foi designada pelo Presidente Biden para cuidar dos problemas de imigração ilegal.
As medidas tomadas foram poucas e improdutivas, propiciando o maior problema imigratório dos Estados Unidos que até agora parece sem solução a curto prazo. Até mesmo Estados e cidades que sempre conviveram e foram amplamente favoráveis à imigração têm se deparado com problemas sérios como pessoas morando nas ruas, aumento da violência, saturação da rede de hospitais e centros de atendimento entre outros aspectos.
Logicamente Trump colocou o dedo nesta ferida encurralando Kamala que não soube retrucar. Ele insistiu neste ponto muitas vezes, acrescentando que a candidata é marxista, o pai era professor e admirador das teses marxistas e a continuidade da atual administração transformaria os Estados Unidos em uma Venezuela anabolizada. Exageros à parte, a realidade é que a imigração ilegal e a inflação são os pontos fracos do governo do qual a candidata faz parte.
Kamala por sua vez apontou o risco à democracia que seria a eleição de Trump, lembrando da invasão ao Capitólio, retirada de documentos sigilosos da Casa Branca, possíveis fraudes relatadas por Trump que não se confirmaram sobre o resultado das eleições que Biden venceu, o alegado caso do ex-presidente tentando calar a atriz pornô e até a falta de apoio de famosos republicanos ao candidato. O aborto acabou ganhando muito destaque por ser assunto que divide a opinião pública.
Enquanto Kamala afirmava que caso seu opositor fosse eleito organizaria lei federal para proibir a prática, enquanto Trump se defendia que passaria aos Estados a decisão. Ninguém falou sobre o déficit público dos Estados Unidos que está atingindo níveis alarmantes. Por quê? Ora, republicanos e democratas preferem ignorar o assunto porque ambos falharam e ainda falham na administração do problema. A solução não é popular, implica em cortes de gastos e aumento de receitas (impostos), ou seja, ninguém gosta de falar do assunto faltando menos de dois meses para a eleição.
Kamala vinha saindo-se um pouco melhor e, até creio que se houve um vencedor no debate foi ela, todavia no final vacilou e abriu a porta para o ataque de Trump. A tentativa de não ser a responsável por problemas sérios da administração Biden, principalmente quanto à imigração ilegal e inflação ponderando que caso fosse eleita seria diferente, provocou a resposta contundente do candidato, induzindo o eleitor a raciocínio simples e fácil de entender. Se ela está lá há três anos e meio e não fez, por qual razão você deve acreditar que agora ela vai fazer.
A imprensa estadunidense aponta Kamala como vencedora, lembrando que a maioria é simpatizante do partido democrata. Não creio que o debate provocará alterações significativas nas pesquisas de intenção de votos e, os Estados pêndulos devem novamente decidir a eleição. Um fato é certo: o clima de já ganhou por parte dos republicanos após o primeiro debate entre Biden e Trump esfriou muito. Os democratas estão mais animados, mesmo porque piorar era quase impossível.
Dennis Munhoz é jornalista, foi Presidente da TV Record e Superintendente da Rede TV, atualmente atua como correspondente internacional, Vice-Presidente da Associação Paulista de Imprensa, apresentador e jornalista da Rede Mundial e Rede Pampa nos Estados Unidos.