“Ainda Estou Aqui” recebeu nessa quinta-feira (23) três indicações ao Oscar e concorre a melhor filme, melhor filme internacional e melhor atriz. O filme é sobre Eunice Paiva, uma advogada brasileira que foi casada com o ex-deputado Rubens Paiva. O político desapareceu em 1971 durante o regime militar, foi torturado e morto. A incansável busca de Eunice por justiça a transformou em um símbolo de resistência contra a ditadura.
A história foi contada no livro “Ainda Estou Aqui”, lançado em 2015 pelo escritor Marcelo Rubens Paiva, filho de Eunice e de Rubens Paiva. O livro deu origem ao filme.
Maria Lucrécia Eunice Facciolla Paiva nasceu em São Paulo em 1929. Ela conheceu Rubens Paiva em 1947 e eles se casaram em 1952. O casal teve cinco filhos: Marcelo Rubens Paiva, Vera Paiva, Maria Eliana Paiva, Ana Lúcia Paiva e Maria Beatriz Paiva.
Em 20 de janeiro de 1971, Rubens Paiva foi levado pela polícia da casa em que vivia com a família no Leblon, no Rio de Janeiro, e esta foi a última vez que ele foi visto.
Eunice nunca desistiu de buscar a verdade sobre o paradeiro do seu marido. Chegou a ficar presa por 12 dias. Depois de ter sido liberada pelos militares, ela então começou a busca pelo paradeiro de Rubens, que nunca mais foi visto.
Uma das filhas do casal, Vera Paiva, disse em depoimento ao Instituto Vladimir Herzog que acha que o que fez a mãe continuar na luta após o desaparecimento de Rubens Paiva foi “o resgate da memória” do ex-deputado “como alguém que foi vítima de um terror do estado” e “cuja a vida foi ceifada desnecessariamente”, além de “foi saber o que de fato aconteceu”. “Ela tinha certeza que levaram ele para vê-la para eventualmente fazê-lo falar”, contou Vera.
“E [continuou sua luta ao longo dos anos em busca] da reparação pelo que aconteceu, que foi entendido por ela como violência de Estado”, descreveu uma das filhas de Eunice.
Ela começou a cursar direito em 1973 e se tornou advogada com forte atuação nas políticas indígenas do país. Paiva também atuou como uma das pessoas que pressionaram o governo para a promulgação da Lei nº 9.140, instituída pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso em 1995, que determinou que as pessoas desaparecidas pela Ditadura Militar fossem consideradas mortas e fosse possível, finalmente, que as certidões de óbito fossem emitidas.
Após 25 anos, ela conseguiu apenas em 1996 que o País emitisse o atestado de óbito de Rubens Paiva.
“Posso dizer que eu fico até grata com essa solução que foi dada e acho que é um capítulo encerrado na nossa vida. Agora realmente encerrado, embora a memória do Rubens, a saudade dele, a importância que ele teve para nós a gente mantém, mas num outro plano, no plano da afetividade, da saudade, tudo mais”, disse na época.
O corpo, no entanto, nunca foi encontrado.
Eunice Paiva morreu em 13 de dezembro de 2018, aos 86 anos – apenas quatro anos após ter recebido a resposta oficial do que aconteceu com o marido. Coincidentemente, ela também morreu na data que marcou os 50 anos desde a promulgação do Ato Institucional de Número 5 (AI-5), considerado o mais violento da Ditadura Militar e que foi utilizado para legalizar a tortura durante o regime.
Eunice Paiva lutou contra o Alzheimer nos seus últimos 14 anos de vida.
A atriz Fernanda Torres, que vive Eunice no longa, resumiu ela como “uma mulher essencial”. “Ela não gastava o tempo dela com nada que não fosse objetivo, contundente, persuasivo, com extrema delicadeza – ela combateu o estado autoritário através de uma imensa delicadeza combativa.”