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Ali Klemt Quem tem convicção não tem vergonha

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(Foto: Freepik)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Um dos maiores desafios da minha atividade é dar opinião com a certeza interna de que continuo sendo uma pessoa do bem. Porque não é fácil, viu? Opinar é, inevitavelmente, desagradar alguém. Ou muitos “alguéns”…

Agarro-me a Nelson Rodrigues e a certeza de que a unanimidade é burra. Sobretudo, porém, acredito verdadeiramente na frase que dá título a esse texto (e que é de minha autoria): quem tem convicção não tem vergonha. Logo, seja fiel ao que você acredita e siga firme.

Até aí, tudo bem. A questão que se coloca, atualmente, é a total ausência de respeito à opinião alheia. O jogo, hoje, é o seguinte: ou você fala o que eu quero ouvir, ou eu não concordo. Simples assim.

Por que opinar se tornou tão inflamável? É um misto de contexto político-social com a nossa cultura contemporânea: vivemos em um país onde há um risco subliminar de ser cerceado, e onde se incorporou a cultura do politicamente correto, contra a qual é quase impossível se posicionar, sob pena de ser considerado o insensível (pra dizer o mínimo).

Daí que ter opinião se tornou um problema para muitas pessoas: ou você está de acordo, ou corre o risco de perder negócios, clientes, amigos. E até parentes! Veja a que ponto chegamos: as pessoas se selecionam pela ideologia, e não pela expertise ou competência. Isso não te parece completamente equivocado?

É por isso que costumo dizer que não é preciso ter opinião sobre tudo. Escolha sobre o que você se importa. Aí, sim, se tocar o seu coração, vale a pena a defesa do ponto. De qualquer ponto. Quem tem convicção não tem vergonha, lembra?

Em contrapartida, há pessoas de quem se espera uma opinião. É o meu caso. O cenário é difícil para quem põe a cara a tapa e o nome na roda: fácil é insultar sendo anônimo, escondido atrás de uma tela e afogado em suas próprias mágoas. Mas, apesar de tudo, não é isso que me incomoda. O que me preocupa é me fazer ser compreendida pelas pessoas de bem, concordem ou não elas comigo. Especialmente se não concordarem. Porque aí eu dependo da boa fé alheia.

O mundo de hoje nos empurra a “achismos”, mas não incentiva a escuta ativa, ou seja, a prática de, efetivamente, escutar o que o outro tem a dizer e considerar as suas palavras – o que não significa concordar. Pelo contrário, muitas vezes, essa “consideração” inclui a tentativa verdadeira de tentar compreender o contexto da fala, as razões da opinião, os sentimentos subliminares. É, entretanto, um ato de entrega – e as pessoas não têm mais tempo para isso. Ainda que não se convença da opinião alheia, a escuta ativa precisa que se ceda. Ao menos, que se ceda o tempo e a atenção – o que, convenhamos, são bens escassos dos quais poucos querem abrir mão.

Daí porque opinar, hoje, é um risco constante. Embora eu seja apenas responsável pelas palavras que proferi, há quem entenda que a responsabilidade é de quem fala também. Será?

E se for? Não somos a favor da liberdade de expressão? Eu sou! E, por isso, respiro fundo a cada crítica, porque as julgo justas e, sobretudo, legais.

Vale a reflexão: qual ê o limite da nossa opinião? Não há! Mas podemos limitar o nosso acesso a ela – ou, ao menos, compreender que cada ser é único e é exatamente essa diversidade de pensamento que nos dá crescer. Porque, no final, é sobre isso: evoluímos na diversidade. Na aprendizagem do coletivo. No crescimento com as agruras do mundo. É que assim seja. Para continuarmos crescendo. E opinando. E tocando esse mundão para frente.

@ali.klemt

 

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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