Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Por Tito Guarniere | 26 de outubro de 2024
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Olhando de perto, dá para dizer que a esquerda saiu enfraquecida no pleito municipal. Mas não fica claro que a direita tenha sido – como tantos falam – a grande vencedora. É mais razoável considerar que o centro voltou a ser um protagonista do embate eleitoral. A esquerda lulopetista e psolista, a direita bolsonarista, ficaram mais nas franjas extremas do eleitorado: o miolo ficou com o centro.
Ao contrário do que se imaginava, o embate não se feriu entre o lulopetismo e o bolsonarismo, as grandes facções da polarização. A polarização perdeu força e tração nas eleições municipais. As eleições de segundo turno não mudam muito o panorama.
A eleição de São Paulo foi para lá de encrencada, mas no final tirou Pablo Marçal do jogo. A versão mais estrepitosa do radicalismo, voz estridente da antipolítica, do atraso e da regressão. Foi um banho de água fria nos métodos incivilizados de campanha, na teoria do vale-tudo eleitoral. O eleitor paulistano quase embarcou na canoa furada, e a tempo corrigiu-se do que poderia se tornar um pesadelo – ainda que Marçal tenha alcançado uma votação muito expressiva. Às vezes, é mais importante reduzir os danos e evitar que o pior.
Marçal, do campo bolsonarista e da direita, entretanto, rachou o movimento. Uma parte ponderável dos bolsonaristas não seguiu a orientação do líder, que apoiava Ricardo Nunes à reeleição. As fissuras escancaram nas saias justas, entre Marçal, Bolsonaro, Tarcísio de Freitas, Malafaia. O bolsonarismo, a direita, nunca mais serão os mesmos.
No restante, partidos que não são aliados incondicionais do bolsonarismo, que até fazem parte da base aliada de Lula, tiveram resultados expressivos em todo o Brasil, como o PSD de Gilberto Kassab, o velho MDB, meio cansado de guerra, a União Brasil.
De novo: a polarização não foi o leitmotiv dos votos municipais. Outras razões, outros critérios, orientaram o voto do eleitorado. Nem tudo se explica nas redes sociais sedentas de ódio , nutridas de maus bofes e maus sentimentos – o que é muito positivo para o Brasil.
Desta eleição, ficou provada a competência de Gilberto Kassab para organizar e dirigir um partido: o seu PSD foi a sigla que elegeu o maior número de prefeitos, quase 900. Também ficou demonstrada a força residual do MDB, 860 candidatos vitoriosos e a queda vertiginosa do PSDB, menos de 300 (para quem já teve quase o dobro em eleições anteriores). Na esquerda, o PSB administrará um número maior de prefeituras do que o PT.
Se surgiu alguma liderança nova e promissora entre os eleitos? Acho que sim. Olhem com atenção o jovem João Campos (PSB), 27 anos, eleito em primeiro turno no Recife com mais de 80% dos votos. Não só por ser o prefeito mais novo do Brasil e de uma metrópole regional, como pelas declarações sensatas, pela análise original que faz da conjuntura, pelo estilo ponderado e agregador – fora das brigas de rua ideológicas – , que demonstrou para vencer e continua mostrando nas entrevistas.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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