Em entrevista concedida no início da semana no Palácio da Alvorada e publicada nessa quinta-feira no site norte-americano The Intercept, a presidenta afastada Dilma Rousseff disse que os opositores do seu governo pediram a sua renúncia porque ela não aceita conviver com a corrupção e que, por esse motivo, a sua presença seria incômoda.
“Como não tenho conta no exterior e nunca recebi propina, já me viraram do lado avesso mas eu não aceito conviver com a corrupção”, frisou. “Uma das coisas que dizem, que eu sou dura, é porque, de fato, é muito difícil chegar a mim pra propor qualquer coisa incorreta.”
Conduzida pelo jornalista norte-americano Glenn Greenwald, residente no Brasil há mais de dez anos, a entrevista foi a primeira de Dilma desde que o Senado determinou o seu afastamento, no dia 12 deste mês. Já o presidente interino Michel Temer não respondeu à solicitação de entrevista.
Indagada se prefere [caso seja afastada em definitivo do cargo pelo Senado] novas eleições ou um governo Temer, Dilma evitou o tema. “Você vai me permitir não responder isso, porque estou lutando até o fim e você vai entender que, se eu colocar uma questão dessas para mim, estarei me desmobilizando”, argumentou. Em diversos momentos da conversa, a petista criticou as medidas da gestão interina do peemedebista, o qual tratou como ilegítimo.
Cunha
Ela disse, ainda, que o líder da suposta conspiração política contra ela não é o presidente interino Michel Temer, mas o presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). “Esse golpe tem um líder, o deputado Eduardo Cunha, que representa um setor extremamente conservador”, acusou.
Dilma declarou, ainda, que processo político brasileiro é um dos mais distorcidos do mundo. “O número de partidos aumenta de forma sistemática e, cada vez mais, os governos vão precisando de mais partidos para formar a maioria simples e a maioria de dois terços no parlamento”, detalhou. “Quanto maior a base de alianças, menos alinhada ela é, política e ideologicamente. Dessa forma, você passa a ter de construir alianças muito amplas.”
Questionada sobre a suspensão da investigação contra o senador Aécio Neves (PSDB-MG) pela Operação Lava-Jato, Dilma atacou o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal. “Ele tem uma atuação militante”, acusou, em referência a supostas simpatias do magistrado pelo partido tucano.