Domingo, 26 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 9 de fevereiro de 2024
O ex-ministro da Justiça Anderson Torres afirmou, em reunião ministerial com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros membros do governo, que eles iriam “se foder” em caso de uma vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De acordo com Torres, todos os presentes tinham “medo” porque o cenário era “ameaçador”.
O vídeo da reunião, que ocorreu em julho de 2022, foi obtido pela Polícia Federal (PF) e liberado nessa sexta-feira (9) por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF).
Na reunião, Torres fez referência a uma fala anterior de Bolsonaro, sobre a ex-presidente interina da Bolívia Jeanine Áñez, que foi presa sob a acusação de participar de um golpe.
“Tem muitos aqui que eu não sei nem se têm estrutura pra ouvir o que a gente está falando aqui. Com todo o respeito a todos. Mas eu queria começar por uma frase que o presidente colocou aqui, que eu acho muito verdadeira. E o exemplo da Bolívia é o grande exemplo pra todos nós. Senhores, todos vamos se foder! (sic) Eu quero deixar bem claro isso. Porque se…Eu não estou dizendo que…Eu quero que cada um pense no que pode fazer previamente porque todos vamos se foder (sic). Não tenho dúvida disso”, declarou Torres.
O então ministro da Justiça afirmou que todos tinham um medo “velado” diante do que considerou uma “ameaça”:
“Estou vendo isso se organizando. Está certo? Não digo que a Polícia Federal está aparelhada. Mas, por exemplo, hoje, dentro da Polícia Federal, quem vai ser o diretor-geral se o PT ganhar. Eu já sei como eles vão trabalhar no âmbito da Polícia Federal. Não tenho dúvida disso. Existe o medo, presidente, velado, hoje, e todos aqui têm esse medo. Realmente é ameaçador o que está acontecendo. Do lado de lá, é ameaça direta, de lá para cá.”
Torres foi um dos alvos da PF da operação Tempus Veritatis, deflagrada nesta quinta-feira, em mais um desdobramento das investigações sobre os ataques golpistas. Ele foi alvo de mandados de busca e apreensão e é apontado no inquérito como integrante de dois núcleos que fomentavam a ofensiva antidemocrática: o núcleo jurídico, responsável pela elaboração de minutas tratando do rompimento constitucional; e o núcleo de “desinformação e ataques ao sistema eleitoral”.
Ex-ministro da Justiça no governo de Jair Bolsonaro e secretário de Segurança do Distrito Federal no momento dos atos do 8 de janeiro, Torres chamou atenção por estar nos Estados Unidos no dia 8. O governador Ibaneis Rocha anunciou sua demissão em seguida e, no mesmo dia, o ministro Alexandre de Moraes determinou sua prisão.
Torres voltou ao Brasil no dia 14 e foi preso. Ele ficou detido em uma cela no batalhão da Polícia Militar (PM). Após ter dois pedidos de liberdade negados, foi solto por Moraes em maio, após passar 117 dias preso. Torres precisa cumprir algumas medidas cautelares, como usar tornozeleira eletrônica e se apresentar semanalmente à Justiça.
Após ter sido solto, Torres se recolheu e tem evitado aparições públicas. Em agosto, ele prestou depoimento em duas comissões parlamentares de inquérito (CPI) que investigam os atos golpistas: uma no Congresso e outra na Câmara Legislativa do Distrito Federal. Nas duas, negou omissão. O ex-ministro acabou sendo alvo de um pedido de indiciamento na CPI do Congresso, mas foi isentado pela comissão distrital. Até o momento, Torres não foi alvo de nenhuma denúncia do Ministério Público devido ao 8 de janeiro. Na esfera administrativa, ele é alvo de um processo administrativo disciplinar (PAD) que pode resultar na sua expulsão da PF, onde é delegado. As informações são do jornal O Globo.