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(Foto: Reprodução)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Desde o quebra-quebra na Praça dos Três Poderes, Anderson Torres ocupa as manchetes. Os repórteres parecem sem opção. Só falam no assunto. É aí que mora o perigo.

Ao se referir a Torres, identificam-no como ex-ministro da Justiça no governo Bolsonaro. Nada feito. Ele é ex-ministro hoje, mas ministro da Justiça no governo Bolsonaro: Anderson Torres, ministro da Justiça no governo Bolsonaro, está preso em Brasília. Está preso o ex-ministro da Justiça Anderson Torres.

Flexão

O governo teme que manifestações extremistas pipoquem pelo país. Os serviços de inteligência estão atentos. Enquanto aguardam, preocupam-se com o bom emprego da língua. Um dos desafios foi o plural de quebra-quebra.

Consulta vai, consulta vem, eureca! Quando os dois elementos são constituídos de palavras iguais ou indicam som de coisas, só o segundo se flexiona: quebra-quebras, reco-recos, tico-ticos, troca-trocas, pisca-piscas, tique-taques.

 Mesmo som

Anderson Torres está na carceragem da Polícia Federal. Dorme em beliche, mas ganhou forno de micro-ondas e tevê. O Ministério Público foi fazer vistoria na cela.

Assim mesmo – cela com c, que significa aposento, lugar pequeno. Não confundir com sela com s, que quer dizer arreio de cavalo ou forma do verbo selar (eu selo, ele sela, nós selamos, eles selam).

Mudez

O ex-ministro da Justiça e ex-secretário da Segurança Pública do Distrito Federal manteve-se em silêncio no depoimento prestado à Polícia Federal. Recorreu ao direito de não produzir provas contra si mesmo. Mesmo sem falar, trouxe ao cartaz o verbo depor. Ele se conjuga como pôr: eu ponho (deponho), ele põe (depõe), nós pomos (depomos), eles põem (depõem). E por aí vai.

Por falar em depor…

O verbo amado pela polícia e temido por quem tem contas a prestar exige a preposição em: depor na polícia, depor na CPI.

A diferença

Na cobertura do quebra-quebra na capital de todos nós, a polícia foi um dos destaques. Ela agiu. Prendeu, investigou e emitiu mandados. Pintou a dúvida: mandado ou mandato? Uma letra faz a diferença:

– Mandado vem de mandar, mando. Trata-se de ordem judicial: mandado de prisão, mandado de segurança, mandado de busca e apreensão.

– Mandato quer dizer representação, delegação: O mandato de deputado é de quatro anos; o de senador, oito.

Das Arábias

Na onda da quebradeira na Praça dos Três Poderes, o governador do Distrito Federal foi afastado do cargo. Assumiu a vice-governadora. A defesa de Ibaneis Rocha não deixou por menos. O advogado falou em sabotagem da polícia. Será?

Pelo sim, pelo não, vale um passeio pela etimologia. Sabotagem vem de sabbat. Na língua de Kalil Gibran, a dissílaba dá nome à madeira perfumada chamada sândalo. Com ela se faziam tamancos. Em francês, sabot. É aí que a história começa. Os camponeses, sem dinheiro pra comprar sapato de couro, usavam o de madeira. Com ele, pisavam as plantas tenras dos grandes proprietários. Daí nasceu sabotar – pisar com o tamanco.

A palavra cresceu e apareceu. Ganhou novas acepções. Designa, sobretudo, ato de destruição intencional de um trabalho ou de uma máquina. Sabotam-se projetos. Sabotam-se casamentos. Sabotam-se candidaturas. Sabotam-se acordos. Sabotam-se instalações industriais. Sabotou-se o governo de Ibaneis? Valha-nos, Deus!

Leitor pergunta

Por que o rei recebe o tratamento de majestade? Evandro Souza, Guarujá.

A razão tem a ver com a origem do termo. Majestas, em latim, quer dizer poder. Daí majestade.

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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