Segunda-feira, 30 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 1 de outubro de 2024
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Imagine um tempo em que a sobrevivência dependia de caçar as maiores e mais poderosas criaturas que vagavam pelo planeta. Foi nesse cenário que os humanos evoluíram, transformando-se de simples primatas em predadores supremos. Um estudo inovador da Universidade de Tel Aviv revelou algo surpreendente: a carne foi o combustível central que impulsionou nossa evolução, moldando corpos, cérebros e comportamento. Por milhões de anos, nossa dieta carnívora nos colocou no topo da cadeia alimentar e nos preparou para a vida moderna.
Nossos corpos ainda carregam as marcas dessa história. O sistema digestivo humano, por exemplo, é uma evidência clara de que fomos moldados para consumir carne. Temos um intestino delgado longo e um intestino grosso reduzido, uma adaptação perfeita para uma dieta rica em proteína e gordura animal. Enquanto o intestino delgado maior absorve os nutrientes da carne de forma eficaz, o intestino grosso menor mostra que não éramos dependentes de alimentos vegetais fibrosos como nossos parentes primatas.
A carne foi mais do que apenas um alimento – foi a faísca que expandiu nosso cérebro. Ao longo de dois milhões de anos, o consumo de carne levou nosso cérebro a triplicar de tamanho. A abundância de calorias e nutrientes presentes na carne permitiu o desenvolvimento de habilidades como motricidade fina, raciocínio lógico e comunicação, essenciais para caçadas bem-sucedidas.
O Dr. Miki Ben-Dor, um dos pesquisadores, ressalta que nossos ancestrais não eram apenas coletores de frutas e vegetais, mas caçadores formidáveis. “A acidez do estômago humano é uma prova dessa dieta carnívora. Nossa acidez estomacal é excepcionalmente alta, comum em predadores e crucial para digerir a carne e proteger contra bactérias presentes em animais abatidos,” explica Ben-Dor. Isso indica que éramos habituados a consumir carne, mesmo após dias de caça.
A evolução do nosso genoma reforça a importância da carne. Os genes humanos mostram uma clara adaptação a uma dieta rica em gorduras e proteínas, ao contrário dos primatas, adaptados a dietas ricas em açúcar. Esta adaptação não foi um acaso – ela foi moldada por milhões de anos de consumo regular de carne.
Descobertas arqueológicas confirmam a habilidade dos humanos como caçadores de grandes animais. Ferramentas de pedra encontradas em sítios pré-históricos mostram que nossos ancestrais desenvolveram métodos sofisticados para capturar e abater presas de grande porte. Isso demandava inteligência e cooperação, habilidades que nos destacaram na corrida evolutiva.
Com a extinção de muitos desses grandes animais, há cerca de 85 mil anos na África e 40 mil anos na Europa e Ásia, a dieta humana começou a incluir mais vegetais, resultando na domesticação de plantas e animais e o surgimento da agricultura. Contudo, por milhões de anos, fomos essencialmente carnívoros, e essa dieta foi fundamental para nossa evolução.
O Professor Ran Barkai, coautor do estudo, destaca que a especialização na caça foi o que realmente moldou nossa trajetória evolutiva. “Nosso estudo mostra que, longe de serem onívoros generalistas, os humanos eram predadores especializados. Essa especialização permitiu nosso desenvolvimento único e nos diferenciou de todas as outras espécies,” afirma Barkai.
Essa nova compreensão de nossa história evolutiva nos oferece uma perspectiva fascinante sobre quem realmente somos. A próxima vez que você pensar na sua alimentação, lembre-se de que o consumo de carne não é apenas uma escolha contemporânea – é uma parte fundamental da nossa jornada evolutiva. A carne foi a força motriz que nos transformou em seres inteligentes, sociais e adaptáveis.
As raízes carnívoras da humanidade representam a verdadeira essência do que nos tornou a espécie mais dominante e inovadora do planeta. A carne foi, e sempre será, o alimento que impulsionou nossa evolução, expandiu nosso cérebro e nos transformou na espécie que hoje se esforça para entender e explorar o mundo ao seu redor.
Fernando Bastos é médico, palestrante e escritor. Autor do Best Seller “O Ciclo Original”
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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