Segunda-feira, 28 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 30 de maio de 2015
A Receita Federal informou nessa sexta-feira que investiga fraudes no futebol brasileiro há mais de uma década. Sem citar nomes – alegando sigilo fiscal –, o órgão afirmou que identificou irregularidades envolvendo inclusive alguns dos envolvidos na operação promovida a pedido da Justiça norte-americana na Suíça, que colocou na cadeia o ex-presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) José Maria Marin e outros seis dirigentes da Fifa (a entidade máxima do futebol).
Foram feitas três operações especiais desde 2002, segundo a Receita, em que foram investigadas 96 pessoas e empresas ligadas ao futebol no País. Essas auditorias resultaram na cobrança de 4,47 bilhões de reais em tributos, multas e juros.
A área de Inteligência da Receita acionou o fisco norte-americano (cujo nome em inglês é Internal Revenue Service) para ter mais informações e possíveis novas provas contra esses investigados e demais envolvidos em fraudes. A interação foi realizada com base em Acordo de Intercâmbio de Informações Fiscais.
Inquéritos
Em 15 anos, a PF (Polícia Federal), no Rio de Janeiro, abriu 13 inquéritos contra a CBF e o seu ex-presidente Ricardo Teixeira. Nenhum deles obteve resultado até hoje. Neste período, a confederação patrocinou congressos, viagens e até cedeu a Granja Comary, centro de treinamento da Seleção, em Teresópolis (RJ), para um torneio de futebol de delegados.
Na quinta-feira, um novo inquérito foi aberto para investigar lavagem de dinheiro e crime contra o sistema financeiro dos dirigentes da CBF e empresários de futebol. A PF informou que “nenhum inquérito está parado”. Algumas investigações foram arquivadas ou trancadas por determinação judicial, sustenta o órgão. “Há ainda casos de investigações enviadas à Justiça que aguardam retorno com decisão.”
Entre 2001 e 2003, 13 inquéritos foram abertos na superintendência da PF, no Rio, tendo como alvo Teixeira ou a CBF. Todos para investigar crimes financeiros. Em nenhum deles, o mandatário da CBF foi indiciado.
A lista com o número dos inquéritos foi encontrada, em 2006, em uma busca da própria PF, na sala do delegado Roberto Prel, então número dois da instituição no Rio de Janeiro. Prel não foi encontrado para falar sobre a lista. À polícia disse, na ocasião, que a medida foi para cobrar providências de seus subordinados. Em 2004, um novo inquérito foi aberto na PF contra Teixeira, além das CPIs da CBF e da Nike, já terem ocorrido no Congresso.
Relação
A relação da CBF com integrantes da PF se intensificou a partir de 2009. Teixeira liberou 300 mil reais para que a Associação de Delegados Federais realizasse o 4 Congresso Nacional, em Fortaleza (CE). Ao todo, foram quatro dias de evento.
Teixeira foi um dos palestrantes na ocasião, onde falou sobre a Copa do Mundo de 2014, no Brasil. Meses depois, em 2010, a ADPF (Associação de Delegados da PF) realizou uma “pelada” de futebol na Granja Comary. Por três dias, a associação, que chamou o local de um dos “templos do futebol brasileiro”, reuniu delegados, peritos e policiais civis do Distrito Federal.
A ADPF não se manifestou se o caso configura algum tipo de conflito. O torneio entre policiais ocorreu meses depois de a PF deflagrar, em novembro de 2009, a Operação Caixa de Pandora, em que descobriu o pagamento de um mensalão do DEM, em Brasília (DF). Entre os envolvidos estava Fábio Simão, apontado, na ocasião, como um dos principais operadores do esquema.
Ele foi presidente regional da CBF e presidente da Federação Brasiliense de Futebol. No processo, Simão nega todas as acusações.
Também em 2010, a CBF patrocinou a ida de um coral de delegados aposentados da PF à Argentina para shows. O valor do apoio cultural não foi divulgado.
Teixeira não foi localizado para comentar o apoio às entidades de policiais federais. O código de ética do servidor público federal aponta que “a função pública deve ser tida como exercício profissional e, portanto, se integra na vida particular de cada servidor público”. (Marco Antônio Martins/Folhapress)