Domingo, 22 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 10 de agosto de 2024
O restaurante paulistano Tuju, detentor de duas estrelas Michelin, e a importadora Clarets foram alvo da Operação Bordeaux, realizada na última semana pela Receita Federal. A ação, que investiga a importação irregular de garrafas de vinhos de luxo, apreendeu 450 rótulos nos dois locais, com valor estimado de R$ 1 milhão, segundo o órgão.
O nome da operação faz referência à famosa região francesa onde são produzidos alguns dos rótulos apreendidos. Além da apreensão das mercadorias, os responsáveis serão processados pelo crime de descaminho e outros correlatos.
Em nota, a Receita Federal diz que a ação se concentrou em um “grupo econômico para o qual foi verificada a venda de vinhos de luxo de alto valor, fruto de importação irregular”.
Localizado no bairro Jardim Paulista, o Tuju é fruto de uma sociedade entre o chef Ivan Ralston, que comanda a cozinha do restaurante, e sócios da Clarets. A casa reabriu ano passado, após um hiato de três anos. Antes ela estava localizada na Vila Madalena, na zona oeste da cidade.
Em nota, o restaurante diz que sua adega conta com cerca de 5 mil rótulos e que 352 deles foram recolhidos pela Receita. As garrafas, segundo o restaurante, foram “regularmente compradas” no Brasil através da importadora Clarets.
Guilherme Lemes, sócio da Clarets e do Tuju, diz que os 352 rótulos apreendidos no restaurante são vinhos “antigos e raros do seu acervo pessoal” e que foram vendidos por ele ao estabelecimento na inauguração da casa. Segundo Lemes, o restante da adega “estava em perfeita conformidade”.
No caso da importadora, onde foram apreendidos outros 98 rótulos, Lemes diz que as garrafas estavam retidas em sua sala, uma vez que esses vinhos de luxo também pertenciam ao seu acervo pessoal. “Todo o restante do estoque foi vistoriado e não teve nenhuma desconformidade.”
Segmento em alta
O consumo regular de vinho no Brasil sofreu uma transformação intensa nos últimos anos, pontua Diego Bertolini, especialista de mercado e sócio-proprietário do grupo Venda Mais Vinho. “Fomos de 21 milhões de consumidores regulares em 2015 para 51 de milhões em 2022”, afirma.
Em busca de novas experiências, as importações da bebida também vem crescendo. Segundo Bertolini, mesmo com o câmbio desvalorizado, a compra de vinhos estrangeiros cresceu 7% no primeiro semestre. No caso de vinhos premium e superpremium, como os recolhidos na operação da Receita, o incremento foi de 33%.
Nesse contexto, o contrabando se fortalece como uma prática criminosa para driblar o pagamento de impostos. Em 2023, a Receita Federal apreendeu mais de 5 milhões de garrafas de bebidas alcoólicas que entraram de forma irregular no Brasil, o que equivale a cerca de R$ 63 milhões.
Paulo Solmucci, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), destaca que, no caso do vinho, o comércio irregular é mais intenso na região Sul do país e pela pessoa física, com foco em rótulos argentinos.
Para além dos prejuízos financeiros e da concorrência desleal, a falsificação de importados é um problema sério gerado pelo contrabando, diz Bertolini. “Temos muitos casos de pessoas intoxicadas com produtos falsificados.” (Com informações do Valor Econômico)