A frase do título foi escrita por Freud ao final de uma declaração “espontânea” à Gestapo, de que sua filha não tinha sido maltratada depois de sua prisão. Extrema ironia. Pois nestes tempos duros em que vivemos, com incitação à violência tomando conta da política, também eu recomendo encarecidamente a violência para todos. Claro, é sarcasmo.
Claro, as redes sociais ajudam, e muito, para a disseminação do ódio. Por isso volto ao conto Teoria do Medalhão, de Machado de Assis. Nunca esteve tão atual, mormente para confirmar a frase de Umberto Eco, de que as redes sociais acordaram os idiotas ou algo como “os idiotas perderam a timidez”. Pior, estão se tornando maioria. Diz Eco: antes só falavam em mesa de bar e depois de uma taça de vinho, sem causar dano à coletividade.
Diziam imediatamente a eles para calar a boca, enquanto agora eles têm o mesmo direito à fala que um ganhador do Prêmio Nobel. Bingo.
Volta e meia recebo e-mails ameaçadores de pessoas que discordam do que escrevo. Um deles, que se assina Ydur Sesun (?) me mandou mensagem dizendo que, por ter criticado Bolsonaro, eu devia ser degolado e que deviam jogar pás de terra sobre mim. Eis o nível. Ameaça de morte. O ódio campeia frouxo.
Tanto campeia que neste momento assistimos a uma nova guerra: a das versões sobre o atentado à vida do candidato Bolsonaro. Como pacifista e contra o uso de armas de qualquer espécie, lamento que alguém pretenda tirar a vida de outrem.
Um maluco, que acha que o 11 de setembro foi produto de conspiração que envolve a maçonaria, usa de uma faca e quase mata um candidato a presidência. Temos que ter muito cuidado com as narrativas e pós-verdades que se formam. Como foi um ato de um idiota, isso não quer dizer que o restante do país queira a violência ou que deseja a morte de alguém. Muito menos esse ato desse maluco quer dizer “nossa democracia está em risco”. Risco por quê? Porque vão chamar os militares?
Se corremos algum risco, este é o de instalarmos a intolerância. Nas redes sociais – sempre esse antro de idiotas que perderam a timidez – já existem perfis falsos para tentar construir teorias conspiratórias. Os democratas temos que ser fortes e rijos contra os fanqueiros da notícia. Nossas diferenças têm de ser resolvidas no voto e nos debates. E não na porrada.
Cá para nós, as declarações do candidato vítima do atentado não podem ser enquadradas como pacifistas. Ele já disse de tudo sobre mulheres, quilombolas, gays, adversários políticos, colegas de câmara. Um maluco de Minas Gerais achou que poderia resolver as diferenças à faca. Na verdade, pelo perfil do agressor, nem isso dá para dizer, porque não dá para entender o que pensa. Ele odeia a política e os políticos. E foi à luta.
Insisto que este é um episódio que deve ser superado. Não foram os adversários do candidato que o esfaquearam. Foi um sujeito que furou a segurança do candidato. Que, momentos antes, dava entrevista sem que se visse perto dele nenhum agente de segurança. Foi vacilação da segurança. Os idiotas desse tipo sempre esperam um vacilo. Logo, não é bom para a democracia (agora, sim, a democracia pode perder) ficarem dizendo que há um mártir e quejandos.
Sim, sei que o nível médio das pessoas que usam as redes sociais e disseminam o ódio é o do conto Teoria do Medalhão, de Machado de Assis. Seu filho Janjão recebe conselhos para ser um medalhão. Possui todos os atributos para tal, principalmente o der ter inópia mental. Pronto. O Janjão cresceu e se multiplicou. E tomou conta do universo social. Opina sobre tudo. E agora corremos o risco de se criar uma narrativa pela qual a facada em um candidato é uma facada na democracia.
Para quem gosta de violência e acha que pode resolver tudo na base da força, volto à ironia de Freud: recomendo encarecidamente a violência para todos brasileiros.