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“Reconstrução do PT está lenta; ter presidente do Nordeste seria boa decisão”, diz o senador petista Humberto Costa

Senador classifica desempenho do partido como "razoável" e diz que presença mais intensa de Lula pode beneficiar candidatos no segundo turno. (Foto: José Cruz/Agência Senado)

Coordenador do núcleo eleitoral do PT, o senador Humberto Costa (PE) avalia que o partido teve um crescimento “razoável” na eleição, ao eleger 248 prefeitos no lugar dos 182 de quatro anos atrás, mas reconhece que o desempenho em São Paulo foi abaixo do esperado. O parlamentar diz que a presença mais intensa do presidente Lula pode beneficiar os candidatos da legenda e cobra uma mudança mais acelerada na visão da cúpula. “Seria importante olhar para essas experiências do Nordeste”, afirma.

1) O presidente Lula só foi a atos de campanha em São Paulo no primeiro turno e agora vai a mais cidades. O que mudou? Houve muita reclamação de aliados?

A eleição no segundo turno é mais concentrada. Ele (Lula) vai a lugares onde a disputa acontece entre o nosso campo e a extrema direita. Fica mais fácil fazer esse papel, sem ter maiores problemas com aliados, como no primeiro turno.

2) Mas houve reclamação?

Houve insatisfação, mas também existe uma compreensão. Na reunião do comitê de campanha do PT, foi levantado, com razão: “Será que se ele tivesse ido a Teresina, a gente ganharia a eleição?”. A diferença foi mínima e antecipou o segundo turno para o primeiro.

3) O PT conquistou mais prefeituras do que em 2020, mas o próprio presidente Lula falou em repensar a estratégia eleitoral e alertou para o desempenho ruim em São Paulo. A que o senhor atribui este desempenho abaixo do esperado?

O PT melhorou, mas foi um crescimento moderado, razoável. O partido está em um processo de reconstrução, mas que ainda está lento. Tem que calibrar a utopia e pensar na sua organização, mas qualquer avaliação agora é precipitada. Se ganhar uma das capitais no segundo turno, já é muito bom. Se ganhar duas, a leitura é outra, e se não ganhar nenhuma, é outra. A presença do Lula no segundo turno pode fazer a diferença.

4) Lula perdeu força como cabo eleitoral?

Não dá para dizer que a imagem do presidente como cabo eleitoral não funcionou. Tanto que ele está sendo requisitado para o segundo turno.

5) Houve derrotas do PT em cidades onde havia grande expectativa, como Araraquara, Teresina e São Bernardo do Campo. O partido está desgastado? Falta renovação?

São questões locais. Não dá para colocar Teresina nesse pacote, porque o PT nunca chegou a ameaçar anteriormente ganhar eleição lá. O Wellington Dias, que foi senador e governador, ficou em quarto lugar quando tentou a prefeitura. Em Araraquara, a candidata (Eliana Honain) do prefeito (Edinho Silva) esteve na frente durante a campanha toda. A justificativa da derrota tem a ver com questões locais, ainda que o estado de São Paulo hoje seja um desafio gigantesco do PT. O antipetismo é enorme. É isso que o partido tem que repensar.

6) O resultado do PT deu força para o grupo que defende um nome do Nordeste na presidência, após a saída de Gleisi Hoffmann. Chegou a hora de o eixo de comando do PT se deslocar para o Nordeste?

Acho já há algum tempo que o PT precisa olhar de uma maneira diferente para o Nordeste. O resultado foi bom, mas foi mais centrado em cidades menores. A gente ainda precisa melhorar nas de médio porte. Seria importante o partido olhar para essas experiências do Nordeste. Tem dado certo aqui, e aí a composição da direção passa por isso.

7) Quem poderia ser um nome?

São vários nomes, mas não pensei… Seria uma boa decisão trazer a presidência do partido para o Nordeste.

8) Acredita que a perda do comando de Araraquara enfraquece Edinho Silva para a sucessão do comando do PT?

O Edinho é um grande quadro político. Um grande prefeito, extremamente preparado, e pode ocupar qualquer função no partido e no governo. De fato, o resultado em São Paulo não foi bom, mas nada tem a ver com ele.

9) O PL saiu mais forte da eleição e deve ganhar ainda mais espaço em capitais após o segundo turno. Vê risco para o projeto de reeleição do Lula em 2026?

Eleição municipal é um indicativo de como o eleitorado tem se comportado. Não será uma eleição fácil em nenhum cenário. Estamos com um governo muito bom, com economia vivendo o melhor momento e, mesmo assim, a aprovação do governo não corresponde ao tanto que o país melhorou. Essa polarização vai estar presente em 2026.

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