A decisão da Petrobras de rever o aumento do preço do diesel trouxe incerteza com relação ao perfil liberal da administração Jair Bolsonaro e coloca em dúvida os passos futuros do governo na agenda econômica, segundo os analistas. Desde a disputa eleitoral no ano passado, Bolsonaro e a equipe econômica liderada por Paulo Guedes têm adotado um discurso reformista, o que sempre foi bem visto pelo mercado – mas que pode ter sofrido um abalo. “Vai caindo a ficha de que a perspectiva liberal do governo pode não ser tão segura como se esperava”, afirmou o economista-chefe de um banco José Francisco de Lima Gonçalves.
Risco de perdas
A principal preocupação dos investidores é que o governo Bolsonaro adote medidas similares às que foram praticadas em gestões passadas, quando o governo optou por não reajustar preços administrados, como dos combustíveis e da energia elétrica, gerando perdas às empresas desses setores. Os reflexos do recuo para a Petrobras ficaram evidentes. O papel da companhia teve forte queda na bolsa de valores, de mais de 8%, e o dólar chegou a bater em R$ 3,90 nesta sexta-feira (12). “O governo ainda não conquistou toda a credibilidade na economia e, portanto tomar uma decisão de natureza intervencionista reforma uma percepção de risco”, afirma o analista político da consultoria Tendências, Rafael Cortez.
Na noite de quinta-feira (11), a Petrobras informou que desistiu de subir o preço do diesel em 5,74%. O novo valor passaria a vigorar a partir desta sexta-feira. O aumento chegou a ser anunciado durante a tarde. A decisão de recuar de um aumento partiu do próprio presidente. “Sempre houve algum receio do mercado sobre o comprometimento do Bolsonaro com a agenda liberal, e o que ele falou coloca isso em dúvida”, disse o economista André Perfeito. Perfeito acredita que, se não fosse o cenário externo positivo dos mercados nesta sexta-feira, a reação por aqui seria bem mais complicada. “As cotações [da bolsa] podem continuar caindo bem mais por conta disso.”
Práticas intervencionistas
Nesta sexta-feira, ao defender a decisão, Bolsonaro afirmou que não defende práticas “intervencionistas” nos preços da estatal, mas pediu uma justificativa baseada em números, argumentando que a alta definida – e derrubada – estava acima da inflação esperada para este ano. Durante a campanha presidencial, no entanto, um dos compromissos de Bolsonaro para a economia era “fazer com que os preços praticados pela Petrobras seguissem os mercados internacionais”.