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Reeleição de Lula é ameaçada pelo crescimento do número de evangélicos

Estudo prevê um crescimento da população evangélica até 2026 e impactos na disputa eleitoral. (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Um estudo da Mar Asset Management, empresa de gestão de ativos, projeta que os evangélicos devem representar 35,8% da população brasileira em 2026, ano da próxima eleição presidencial. O aumento de 3,7 pontos porcentuais desde o pleito de 2022 pode ameaçar uma eventual reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de acordo com a análise.

O estudo levou em consideração a projeção de aumento da população evangélica, os índices de votação entre o segmento religioso nas eleições passadas dos presidentes eleitos e a popularidade atual de Lula.

Até 2014, os evangélicos votavam relativamente de forma equilibrada entre o candidato do PT e seu adversário. Em 2010, 51% dos eleitores evangélicos declararam intenção de voto no candidato petista, contra 49% do principal adversário. Já em 2014, ano da reeleição da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), os evangélicos representaram 49% das intenções de voto na véspera da eleição.

O panorama mudou a partir das eleições de 2018, quando apenas 31% dos eleitores evangélicos declararam voto em Fernando Haddad (2018) e em Lula (2022). Se o índice de intenção de voto ao candidato do PT se mantiver no patamar de 31% em 2026, o petista teria apenas 49,8% dos votos válidos.

Em 2010, à época da eleição de Dilma, apenas dois Estados (ES e RO) tinham mais de 30% de sua população composta por evangélicos. Em 2022, esse número subiu para 18 Estados.

O diretor do Observatório Evangélico, Vinícius do Valle, ressalta que não há dados consolidados sobre o número de evangélicos no País, mas que, se a tendência de crescimento do segmento religioso se mantiver, “2022 pode ter sido a última eleição que daria para ganhar sem os evangélicos”.

De acordo com o estudo, o PT recebe menos votos em municípios com maior presença evangélica, uma tendência “consistente” entre Estados e regiões do País.

Em 2022, a conversão de votos entre a população não evangélica em Lula foi a maior da história. Mesmo que os porcentuais de votos se repetisse, o maior número de evangélicos no País já seria suficiente para garantir a vitória de um candidato de direita em 2026, mostra a análise.

“Entre 2010 e 2024 o número de igrejas de denominação evangélicas com CNPJ ativo dobrou, chegando a mais de 140 mil templos em 2024. O ritmo de expansão permaneceu surpreendentemente constante. Em todos os ciclos presidenciais desde 2010, foram registradas, em média, cerca de 5 mil novas aberturas de templos por ano”, diz o estudo.

Segundo Valle, apesar do alinhamento ideológico com pautas mais conservadores, o eleitor evangélico não é automaticamente bolsonarista. Para o pesquisador, o eleitor leva em consideração, além de preferências políticas, o contexto social e econômico do País na decisão do voto.

“Ele é um eleitor que se coloca em disputa. O que foi trazido para esse eleitor (em eleições passadas)? O governo Lula iria perseguir igrejas, fechar igrejas, argumentos que vão ser muito difíceis de serem reproduzidos na próxima eleição. É precipitado reproduzir a dinâmica ideológica dos últimos pleitos e tratar essa dinâmica ideológica como um dado para próxima eleição. É preciso ter cautela e ver que esse eleitor também é um eleitor em disputa, mas não podemos deixar de notar que, com certeza, esse contingente populacional está ganhando cada vez mais força”, explica.

O número de templos por 100 mil habitantes aumentou de 22,7 para 65,4 entre 2000 e 2024. A estimativa da Mar Asset Management é que esse número alcance 69,6 na véspera da eleição presidencial de 2026. Os templos que não foram identificados como evangélicos somavam 5,5 por 100 mil habitantes em 2000 e hoje são 15,6.

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