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Por Redação O Sul | 16 de maio de 2015
Mesmo fora da competição, Woody Allen chamou a atenção dos holofotes nesta sexta (15), terceiro dia do Festival de Cannes. O cineasta americano lançou seu 47º filme, “O Homem Irracional”, e sua presença ao lado das atrizes Emma Stone e Parker Posey quase causou tumulto na entrada da sala de entrevistas.
Quem conseguiu entrar foi recompensado. Allen se mostrou bem-humorado e confessional. Falou que “aprendeu muito pouco” ao longo da carreira e se diz mais “instintivo”.
“Depois de dois ou três filmes, você já sabe o que fazer. Só precisei aprender um pouco sobre edição e trilha sonora. O resto foi instinto”, disse o cineasta, que admite nunca assistir aos seus filmes após completá-los – mesmo obras-primas como “Manhattan”, “Hannah e Suas Irmãs” e “Tiros na Broadway”.
“Chaplin tinha o luxo de poder rever suas obras e mudá-las caso não gostasse. Não posso fazer isso, mas refaria todos meus filmes se pudesse.”
Em “O Homem Irracional”, Joaquin Phoenix interpreta um professor de filosofia depressivo que se muda para uma pequena cidade dos EUA para lecionar na universidade local. Lá, envolve-se com uma linda e brilhante estudante, Jill (Emma Stone), e Rita (Parker Posey), uma professora insatisfeita com o casamento.
Allen deixa o romance de lado e investe em uma homenagem a “Pacto Sinistro” (1951), clássico de Hitchcock, quando o personagem de Phoenix comete “o assassinato perfeito” e recupera o gosto pela vida, pelo sexo e pelas aulas.
“Há certos momentos na vida em que precisamos tomar decisões e fazer escolhas, racionais ou não. No caso do filme, ela é irracional, mas nada se compara com a vida real”, filosofa o diretor. “Se você pensar, a escolha de acreditar que existe um paraíso depois da morte não é mais louco que o ato do personagem que transformará sua vida para melhor.”
“O Homem Irracional” está previsto para estrear em agosto no Brasil, onde Allen ainda pretende filmar. “Nunca estive no país, então ainda não tive uma ideia”, afirmou o diretor.
“Quando estou em casa pensando em ideias imagino se alguma cidade seria ideal para a trama, então não sei como começar uma história passada no Brasil. Assim que algo me ocorrer, farei na hora”, disse o cineasta de 79 anos.
Antes, ele está duelando com um desafio inédito: criar uma série para a Amazon. “Acho que cometi um erro catastrófico. Pensei que seria fácil, mas são seis horas divididas em meia hora por episódio. Espero não desapontar, senão será uma vergonha cósmica.”
“Eu tento criar algo que explique porque vale a pena viver”, disse ele. “Um dia tudo vai acabar, não importa o quanto cultivemos nossas obras. Faço filmes para me distrair de pensar em assuntos sérios da vida, como ficar velho.” (Rodrigo Salem/Folhapress)