Segunda-feira, 28 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 6 de setembro de 2017
O ex-ministro Antônio Palocci disse, nessa quarta-feira, que a empreiteira Odebrecht adquiriu um apartamento em São Bernardo do Campo (SP) para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e um terreno para a construção do Instituto Lula, como compensação pelas vantagens que a empresa recebeu durante o governo do petista. A afirmação foi feita em depoimento presencial ao juiz federal Sérgio Moro, em Curitiba (PR), na condição de réu da ação penal da Operação Lava-Jato que apura estes fatos, apresentados em denúncia do MPF (Ministério Público Federal).
“Eu queria dizer, a princípio, que a denúncia procede”, declarou. “Os fatos narrados nela são verdadeiros. Eu diria apenas que os fatos narrados nessa denúncia dizem respeito a um capítulo de um livro ainda maior de um relacionamento da Odebrecht com o governo do ex-presidente Lula e da ex-presidente Dilma, que foi uma relação bastante intensa, bastante movida a vantagens dirigidas à empresa, a propinas pagas pela Odebrecht para agentes públicos em forma de doação de campanha, em forma de benefícios pessoais, em forma de caixa 1 e de caixa 2.”
“Eu tenho conhecimento porque participei de boa parte desses entendimentos na qualidade de ministro da Fazenda do presidente Lula e ministro da Casa Civil da presidente Dilma”, ressaltou Palocci ao iniciar o depoimento.
O ex-ministro detalhou, ainda, como as diretorias da Petrobras foram divididas entre os três principais partidos que compunham o governo durante as administrações petistas. “Na Diretoria de Serviços, [ficou] o PT, na Diretoria Internacional, o PMDB, e na Diretoria de Abastecimento, o PP. Desenvolveu-se uma relação de intenso financiamento partidário de políticos, pessoas, empresas. Esse foi um ilícito crescente na Petrobras, até porque as obras cresceram muito e, com elas, os ilícitos”, disse.
Palocci também disse a Moro que conversava com Lula sobre essas relações. Ele narrou como foi questionado pelo ex-presidente em 2007 se estaria havendo “muita corrupção” nas diretorias de Serviços e de Abastecimento. Segundo o ex-ministro, a Odebrecht repassou R$ 4 milhões em espécie ao Instituto Lula como propina. Palocci disse ainda que a empreiteira havia disponibilizado uma reserva de R$ 300 milhões em propina ao PT, e que o ex-presidente sabia se tratar de “dinheiro sujo”.
Dilma
Antônio Palocci contou que havia uma desconfiança da Odebrecht quanto à eleição de Dilma Rousseff para a Presidência da República. Ele narrou uma reunião que teria ocorrido no dia 30 de dezembro de 2010 entre Lula e Emílio Odebrecht, dono da empreiteira.
“Nessa reunião, o presidente Lula leva Dilma, presidente eleita, para que ele diga a ela das relações que ele tinha com a Odebrecht e que ele queria que ela preservasse o conjunto daquelas relações em todos os seus aspectos, lícitos e ilícitos”, contou o ex-ministro. Ele disse que não estava na reunião, mas que ficou sabendo dela por meio do próprio líder petista.
Em seguida, Palocci disse que a Odebrecht foi beneficiada durante o governo Dilma em algumas situações. A pedido do juiz Sérgio Moro, o ex-ministro citou como exemplo que a empreiteira desejava assumir a administração de um aeroporto de grande porte e havia perdido as licitações para concessão dos aeroportos de Brasília e das cidades paulistas de Guarulhos e Campinas.
De acordo com ele, a licitação do aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, foi direcionada para que a empreiteira vencesse o certame. “Havia uma cláusula que impedia o vencedor da licitação de Cumbica de participar da licitação do Galeão em condições livres. Isso foi colocado por solicitação da Odebrecht”, contou.
Prisão
O ex-ministro está preso na carceragem da PF (Polícia Federal) em Curitiba (PR). Ele já foi condenado em outra ação penal da Operação Lava-Jato a 12 anos de cadeia por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Neste processo, o MPF afirma que o grupo Odebrecht comprou um terreno no valor de R$ 12,4 milhões para a construção do Instituto Lula – obra que não chegou a ser executada.
Ainda segundo a denúncia, o ex-presidente também recebeu como vantagem indevida da empreiteira uma cobertura vizinha ao apartamento onde mora, em São Bernardo do Campo. O depoimento do ex-presidente Lula nesta ação penal está marcado para a próxima quarta-feira (13).