O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem dado sinais dúbios aos aliados mais próximos sobre a reforma ministerial que pretende fazer nas próximas semanas. Alguns desses gestos têm o objetivo de “testar” as possibilidades de troca como “balões de ensaio” (informações “vazadas” propositalmente para analisar os possíveis impactos das alterações). Em outras oportunidades, o presidente também busca verificar quais dos interlocutores “vazam” informações aos jornalistas.
Interlocutores do Palácio do Planalto acreditam que o presidente da República deve definir, primeiro, as mudanças em pastas do PT e em vagas que podem ser consideradas como “cota pessoal” de Lula. A escolha da presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), para a Secretaria- Geral da Presidência, por exemplo, se encaixa nesse caso.
Há outras alterações aventadas, como mudanças no Ministério das Mulheres e, possivelmente, no do Desenvolvimento Social ou no da Saúde. Os ministros Cida Gonçalves (Mulheres), Wellington Dias (Desenvolvimento Social) e Nísia Trindade (Saúde) podem ser substituídos.
Para o lugar de Cida Gonçalves, é cotado o nome de Luciana Santos (PCdoB), que deve ser retirada do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação. Para o lugar de Nísia, o nome do chefe da Secretaria de Relações Institucionais (SRI) da Presidência da República, Alexandre Padilha, é especulado. Seria uma forma de alçar Padilha a um cargo mais importante (o Ministério da Saúde é o que tem um dos maiores Orçamentos) e, ao mesmo tempo, abrir espaço para alguém do Centrão na Secretaria de Relações Institucionais.
Um dos episódios sobre esses sinais “dúbios” de Lula foi em uma reunião na semana passada com um interlocutor em que ele foi perguntado sobre a troca na Secretaria-Geral da Presidência. O presidente disse que não se decidiu ainda sobre a substituição, mesmo indicando a outros auxiliares que a ida de Gleisi para o ministério já está praticamente certa.
Outros sinais são as constantes notícias divulgadas pela imprensa aventando a escolha de políticos para algum cargo, como uma possível ida do ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) para o Ministério da Agricultura, ocupado atualmente pelo PSD. O objetivo é testar a recepção que essas possibilidades têm no establishment político. Um recado recebido após esses testes foi a crítica do presidente nacional do PSD e secretário de Governo e Relações Institucionais do Estado de São Paulo, Gilberto Kassab, ao Poder Executivo federal na semana passada. Kassab disse que Fernando Haddad é um ministro da Fazenda fraco e que Lula não seria reeleito se as eleições fossem neste ano.
Segundo interlocutores do Palácio do Planalto, antes de definir como o Centrão será reacomodado na Esplanada dos Ministérios, o presidente da República deve aguardar indicativos dos novos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), que foram apresentados na reunião que os três tiveram na manhã desta segunda-feira, 3.
Alcolumbre já sugeriu ao Palácio do Planalto a troca no Ministério de Minas e Energia e nos Correios. Quer indicar pessoas de sua confiança nos dois.
Motta, por sua vez, ainda não colocou as cartas na mesa, mas o governo espera que isso ocorra já nas próximas semanas. A reportagem apurou que a avaliação no entorno do deputado é de que o Republicanos, partido de Hugo Motta, deve ter um papel secundário nas conversas. O presidente da Câmara deverá dedicar seu capital político a encontrar bons espaços para aliados de outras legendas.
Alcolumbre já indicou ao menos dois ministros. Waldez Góes (Integração Nacional) e Juscelino Filho (Comunicações) foram alçados aos seus cargos com a bênção do senador, antes mesmo de ele retornar ao comando da Casa Alta do Congresso. Motta, por sua vez, não tem nenhuma indicação no alto escalão do governo federal. Não influenciou na escolha do único ministro de seu partido, Silvio Costa Filho (Republicanos-PE), que ocupa o Ministério de Portos e Aeroportos. Os cargos na pasta foram decididos junto à cúpula do Republicanos – ou seja, também sem a influência de Motta. As informações são do portal Estadão.