Terça-feira, 07 de janeiro de 2025
Por Edson Bündchen | 4 de maio de 2023
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Inovações de grande envergadura sempre despertaram nas pessoas variadas expectativas, justificadas apreensões ou até medos sem sentido. Por trás desses sentimentos, o desconhecido, aquilo sobre o qual não se detém informações suficientes para aplacar, pelo menos em parte, nossa eterna angústia em relação ao futuro. No longínquo ano de 1950, Isaac Asimov inaugurava um novo espectro de ansiedade que passaria a governar muito da aflição da sociedade moderna, indagando de que forma deveríamos conviver com as inovações que a robótica trazia numa velocidade crescente. Na obra seminal que o distinguiria para sempre, Asimov explorou, em nove contos interconectados, as implicações sociais e filosóficas da convivência entre humanos e robôs. “Eu, Robô” foi um livro de ficção científica que descortinou esse novo tempo, e de lá para cá, a ansiedade em relação aos desdobramentos das inovações tecnológicas só fez aumentar.
Passados mais de 70 anos, a robótica que assustava Asimov parece hoje uma inovação inocente, diante dos avanços da inteligência artificial, cujos desdobramentos têm tirado o sono de figuras de peso como Elon Musk e Bill Gates. No Brasil, embora não sejamos protagonistas de peso no desenvolvimento da atual revolução tecnológica, somos um dos consumidores mais ávidos por novidades, e um dos maiores usuários das redes sociais. E é no universo da internet e das onipresentes mídias sociais que se trava hoje intenso debate acerca de eventuais mecanismos de controle sobre aquilo que deve ou não ser publicado, uma vez que parte da sociedade enxerga, na atual liberdade total vigente nas redes, a confirmação de que a Internet, de fato, se converteu numa “terra de ninguém”.
O assunto, não obstante encharcado pelo sectarismo de parte de alguns debatedores, merece ser priorizado, não, porém, de forma apaixonada, mas com os ânimos serenados e visão sistêmica, integrada e colaborativa, dado o caráter interdisciplinar do tema. Nessa lógica, não há como negar que o uso indiscriminado de robôs nas mídias sociais está sendo um mecanismo para a manipulação das massas, fenômeno particularmente evidenciado em períodos eleitorais, quer no Brasil, quer em outras partes do mundo. Também é muito difícil identificar os autores de crimes voltados contra as instituições de Estado, o que tem levado ao risco de enfraquecimento dos regimes democráticos, sem contar com uma série de outros problemas decorrentes da proliferação do anonimato em nome da louvável tese do direito à liberdade de expressão.
Regular, controlar e censurar são termos sob os quais transitam as vontades dos congressistas brasileiros que hoje discutem o polêmico PL 2630/2020, em tramitação no Parlamento. Para aqueles que são contra as mudanças propostas, hoje albergados em sua maioria na extrema direita brasileira, qualquer forma de regulação se converterá, inevitavelmente em censura, e por isso a internet deve continuar sem nenhuma forma de controle estatal. Já para os progressistas, a regulação das mídias sociais é inevitável e assim o será de agora em diante, com gradativas adaptações à medida em que as inovações ocorrerem, sem que isso represente qualquer tipo de censura.
Como uma alternativa, quem sabe conciliadora, as mídias sociais deveriam se subordinar ao regramento legal hoje estipulado para a mídia tradicional. O mesmo zelo ao proferir uma opinião ou emitir um determinado comunicado, deveria estar presente, tanto nas colunas de um grande jornal, rádio ou televisão, quanto numa inserção feita no Facebook, YouTube, Twitter ou qualquer outro meio digital que seja público. Essa equiparação traria menos mentiras em circulação e maior responsabilidade para as chamadas bigtechs, que hoje têm parte substancial de suas receitas oriundas das matérias e reportagens produzidas pela imprensa tradicional. O debate está aberto, e talvez a inspiração de Asimov possa nos tornar mais abertos às possibilidades de uma concertação mais assertiva e menos dogmática para o assunto.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.