Por Redação O Sul | 22 de julho de 2023
O governo do Reino Unido criticou a União Europeia (UE) por se referir ao arquipélago das Falklands como “Ilhas Malvinas” em declaração alusiva à cúpula da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac). Localizada no Oceano Atlântico, a região motivou em 1982 uma guerra entre Inglaterra e Argentina, que após a sua independência (1816) herdou da Espanha o território, que acabou ocupado por tropas britânicas (1833).
Em postagem no Twitter, o ministro britânico das Relações Exteriores, James Clevery mencionou um referendo realizado em 2013 e por meio do qual “99,8% dos habitantes das Falklands votaram a favor de serem parte da família britânica, em escolha democrática que deve ser respeitada”.
O chanceler argentino Santiago Cafiero não deixou barato. Na mesma rede social, ele escreveu: “Estimado Secretário James Cleverly: o Reino Unido viola a integridade territorial da Argentina há 190 anos. O pretenso referendo que o senhor invoca não tem valor para o Direito Internacional. Nem modifica o estipulado em mais de 50 resoluções das Nações Unidas ou a obrigação britânica de encerrar o colonialismo e resolver pacificamente a disputa”.
A polêmica ganhou mais “lenha na fogueira” com uma declaração do presidente argentino, Alberto Fernández. “Demos mais um passo, uma vitória diplomática histórica: um povo inteiro levou as Malvinas para uma declaração birregional”, postou.
Detalhes
A declaração final em inglês da cúpula UE-Celac, realizada esta semana, inclui tanto o termo “Ilhas Malvinas” como “Falklands” para se referir ao arquipélago do Atlântico Sul, por cuja soberania os dois países se enfrentaram militarmente em 1982. Em espanhol, o documento apenas menciona “Ilhas Malvinas”.
O ponto 13 dispõe: “Quanto à questão da soberania sobre as Ilhas Malvinas, a União Europeia toma nota da posição histórica da Celac, baseada na importância do diálogo e no respeito ao Direito Internacional na solução pacífica de controvérsias”.
O porta-voz do primeiro-ministro britânico Rishi Sunak criticou na quarta-feira a “lamentável escolha de palavras” usadas pela União Europeia. “Sejamos claros, as Ilhas Falklands são britânicas. Esta é a escolha feita pelos próprios habitantes da ilha” no referendo de 2013, insistiu.
Sob condição de anonimato, um funcionário da UE fez a ressalva de que o bloco europeu não havia mudado sua posição sobre o tema.
Conflito armado
Uma resolução da ONU de 1965 reconheceu um conflito pela soberania do arquipélago e recomenda que as duas nações solucionem o impasse por meio de negociação. Isso não impediu que a disputa pelo território, localizado a 400 quilômetros do litoral argentino e a quase 13 mil quilômetros do Reino Unido, motivasse uma guerra de 74 dias em 1982. Saldo: vitória dos britânicos e mais de 900 mortos (dos 649 eram jovens argentinos).
O país latino-americano defende que as ilhas, herdadas da coroa espanhola após sua independência, foram ocupadas por tropas britânicas em 1833. Em contrapartida, o Reino Unido defende o resultado do conflito e armado e o fato de que a maioria dos 2 mil habitantes do arquipélago votaram na consulta popular de 2013 pela manutenção do controle britânico.
