A dor de cabeça que as joias dadas pela família real saudita causam atualmente no ex-presidente Jair Bolsonaro já acometeu no passado outros chefes de Estado. Bolsonaro deve ser chamado a dar explicações em inquérito da Polícia Federal por suposta pressão exercida pela sua administração para conseguir a liberação irregular das peças de diamantes apreendidas pela Receita Federal.
Nos Estados Unidos, o ex-presidente Bill Clinton (1993-2001) e a sua mulher, Hillary Clinton, foram acusados de se apropriar indevidamente de objetos da Casa Branca e de presentes ganhados pelo então mandatário. Diante das críticas, o casal decidiu pagar US$ 86.000 para 27 pessoas que haviam dado presentes que foram levados por eles após o mandato de Bill Clinton. A lista incluía o ator Jack Nicholson e o cineasta Steven Spielberg.
Pela lei americana, o presidente do país só pode ficar com presentes cujo valor não ultrapasse US$ 415 (o equivalente a R$ 2.130, na cotação atual). Qualquer item mais caro que isso é encaminhado diretamente ao Arquivo Nacional americano.
As autoridades do país podem optar por ficar com os itens recebidos, mas para isso precisam pagar um preço equivalente ao seu valor de mercado. Foi o que Hillary Clinton fez para permanecer com um colar de pérolas negras que havia sido dado por um político do Myanmar em 2012. A então secretária de Estado americana pagou US$ 970 para permanecer com a joia após o seu mandato, segundo a revista “The Atlantic”.
Já na Argentina, a ex-presidente Cristina Kirchner (2007-2015) foi alvo de investigação por conta de um presente atribuído por ela ao presidente russo, Vladimir Putin. Em 2018, a polícia foi à casa de Kirchner cumprir um mandado de busca e apreensão e encontrou em meio a uma caixa de documentos uma carta datada de 1835 e escrita à mão pelo libertador José de San Martín, herói argentino e sul-americano. Foi aberta investigação por suposto crime de ocultamento, destruição ou exportação ilegal de documentos históricos. Em sua defesa, Kirchner disse que ganhou a carta de presente de Putin durante visita a Moscou em 2015. O russo teria dito a ela que havia comprado o documento em Nova York.
Na França, diamantes dados em 1973 a Giscard d’Estaing, então ministro das Finanças e que se tornaria presidente do país a partir do ano seguinte, criaram um escândalo. As pedras foram um presente de Jean-Bédel Bokassa, ex-ditador da República Centro-Africana. O caso veio à tona em 1979, no fim do mandato de d’Estaing na Presidência, e sua repercussão ajudou a frustrar sua tentativa de reeleição. O então presidente francês disse que havia vendido os diamantes e doado para a Cruz Vermelha — que à época negou ter recebido a doação.
Assim como no Brasil, joias de diamantes oferecidas pela família real saudita também motivaram manchetes nos jornais do Reino Unido. O príncipe saudita Mohammed bin Salman deu um par de brincos de diamantes à duquesa de Sussex, Meghan Markle, como presente de casamento. As joias foram usadas em duas ocasiões pela mulher do príncipe Harry, ambas em 2018. A origem dos brincos causou desconforto à família real britânica, já que, semanas antes, bin Salman havia sido acusado de mandar matar o jornalista Jamal Khashoggi dentro do consulado saudita na Turquia.