Ser professora da Rede Municipal de Porto Alegre e lecionar em duas escolas não é uma tarefa fácil. Atuo há mais de dez anos sendo professora, tendo experiência tanto na rede pública quanto na privada.
Atualmente, atendo alunos de 4 a 5 anos na EMEF Moradas da Hípica pela manhã, e a tarde alunos com deficiência intelectual do terceiro ciclo na EMEEF Elyseu Paglioli. Somando 40 horas de aula semanais. Passei a vida estudando e ainda continuo em constante formação, concluindo minha quarta especialização, todas com recurso próprios. Nas horas vagas, me aventuro na literatura. Participei de oito livros de diferentes gêneros, que vão do terror à poesia. Lancei meu terceiro livro infantil mês passado. Chamado “Amor de Mãe”, surgiu como uma declaração de amor para todas as mães. Foi inspirado pelo convívio do dia-a-dia que tenho com os alunos em sala de aula, e traz de uma maneira simples e poética como as crianças descrevem suas mães.
Quando a criança ouve ou lê um poema é capaz de comentar, refletir e questionar sobre ele. Afinal nem todas as mães são iguais. Como o livro diz, tem mãe que é valente, tem umas que são como fadas, outras que não puderam ter filhos seus, mas escolherem ter filhos de coração. O livro trata dos vários tipos de mães. O livro é divido em duas partes, uma formada pelas poesias, que são compostas por texto curtos que facilitam a leitura para as crianças pequenas. Principalmente aquelas crianças que começaram a ser inseridas no mundo letrado. E a segunda, possui ilustrações que formam uma outra estória sem texto e servem para estimular a criatividade e a imaginação dos pequenos leitores.
Em setembro, participei da Bienal no Rio de Janeiro XVIII, convidada para o 1° Encontro da Geração Literária , um grupo de escritores que busca divulgar a literatura nacional. O evento aconteceu no estande da Editora Hope. Apesar do contexto político, encontrar coragem para nadar contra maré é algo que precisa de uma motivação diária. Ser professora neste País é, na maioria das vezes, sinal de desvalorização, baixo salário e pouco reconhecimento. Trabalhamos em escolas sucateadas, onde o mais essencial às vezes falta.
Não recebo nenhum tipo de incentivo, nem patrocínio para escrever meus livros. Escrevo por amor e acredito que posso contribuir de alguma forma para o mundo com a escrita. E mesmo com as dificuldades, como parcelamento do salário do município e toda a falta de recursos, continuo perseguindo meu sonho. Todos os dias me desloco de uma escola para a outra, utilizando ônibus lotado, sem ar condicionado. Como tantos outros colegas professores, estamos em uma constante batalha.
Não acredito que existam receitas prontas para resolvermos todas adversidades que enfrentamos, porém podemos transformar as pedras em nosso caminho. As experiências difíceis nos fortalecem, mas seria bom que existisse um lugar ideal onde todo trabalhador fosse valorizado. E que a cultura e a criatividade fossem reconhecidas. E que todos tivessem seus direitos garantidos, mas enquanto isto não acontece, eu continuo a pegar meu ônibus lotado e a escrever a cada parada, sonhando que um dia as coisas possam melhorar. Crer que existam mais pessoas que acreditam neste sonho me incentiva a lutar, a mudança me motiva a escrever e dar aulas.
Às vezes, um simples gesto pode mudar a nossa realidade. Pegar uma folha de papel e escrever é um passo grandioso para nossos alunos. E é na leitura que o mundo inteiro e se abre para as crianças. Que nossos escolas possam ser porta de entrada para o conhecimento, que mais políticas públicas de incentivo à leitura sejam implementadas no nosso País. Eu acredito que todos podemos fazer a diferença e espero que esteja certa.
Geana Krause
Pedagoga e Escritora