O coração é uma bomba incansável e vital, que bate cerca de 80 vezes por minuto com dois movimentos principais: o de relaxamento, para receber o sangue vindo do organismo, e o de bombeamento, para levar o sangue oxigenado, novinho em folha, a todas as células.
A insuficiência cardíaca é a via final de quase todos os problemas no coração. O sofrimento do órgão faz com que a pessoa fique sem energia, sem fôlego para as atividades do dia a dia, com inchaço nas pernas, palpitações etc. Infelizmente, não é uma condição incomum em nosso país.
A boa notícia, recém-publicada no prestigioso The New England Journal of Medicine, diz respeito ao tipo de insuficiência em que o coração diminui sua capacidade de relaxar para receber o sangue do organismo, a chamada insuficiência cardíaca de fração de ejeção preservada. Ela representa cerca de 50% de todos os casos dessa doença e é frequente em pessoas com diabetes.
Esse tipo de insuficiência cardíaca apresenta alto grau de letalidade em curto prazo, com cerca de 30% de óbitos no primeiro ano – letalidade superior à de muitos cânceres. E, até o momento, nenhum medicamento havia demonstrado melhora significativa entre pessoas que sofriam com ela.
Felizmente, os dados do estudo Emperor-Preserved se tornam um marco no tratamento da insuficiência cardíaca, pois eles colocam em evidência o primeiro e único remédio capaz de reduzir risco de morte e novas hospitalizações por insuficiência cardíaca de fração de ejeção preservada.
E quem diria… esse medicamento foi originariamente desenvolvido para o tratamento do diabetes. É a empagliflozina, prescrita na rotina a pacientes com diabetes tipo 2.
Mas como esse fármaco melhora uma grave insuficiência cardíaca? O ponto crucial é que esse remédio faz o corpo expelir o excesso de glicose e sódio pela urina. Isso é útil para o controle glicêmico mas também para o controle da pressão e do peso.
É um mecanismo de ação tão revolucionário que também já mostrou benefícios em pacientes com insuficiência renal crônica. E tem um detalhe: esses benefícios se estendem a pessoas com insuficiência renal ou cardíaca com e sem diabetes.
Não é por acaso que a FDA, a agência que regula medicamentos nos Estados Unidos, fez uma aprovação relâmpago dessa nova aplicação da droga.
Sinceramente, adoro essas peças que a ciência nos prega: começamos tratando o diabetes e terminamos melhorando o funcionamento dos rins e do coração, mesmo em pessoas sem problemas com os níveis de açúcar no sangue. E agora me pergunto: qual será a próxima descoberta fascinante? Vamos aguardar – cuidando da saúde sempre.