Quarta-feira, 08 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 3 de dezembro de 2024
O governo brasileiro negou que mais de 600 brasileiros tenham sido deportados do Reino Unido nos últimos meses. A suposta deportação em voos “secretos” foi uma ação voluntária de brasileiros que concordaram em regressar ao Brasil, segundo informou o Ministério das Relações Exteriores (MRE). A medida causou preocupação de entidade que trabalha com imigrantes latino-americanos no Reino Unido.
Em nota, o Itamaraty informou que não se tratou de deportação, que é quando o estrangeiro é obrigado a deixar o país. “O VRS [sigla em inglês para o “Programa de Retorno Voluntário”] oferece passagens aéreas para os migrantes que desejam retornar a seus países de origem, além de auxílio financeiro para se restabelecer em suas cidades natais”, declarou.
Os brasileiros participaram do Programa de Retorno Voluntário (Voluntary Returns Service – VRS, em sua sigla em inglês) que oferece ajuda financeira e passagem aérea em voos comerciais para os estrangeiros sem autorização legal para permanecer no país.
“O processo de retorno voluntário proposto pelo Reino Unido coaduna-se com os princípios da assistência consular brasileira que, em casos específicos, também financia a viagem de brasileiros em situações de desvalimento no exterior, além de contar com parceira de natureza semelhante com a OIM (Organização Internacional para Migrações). O consentimento brasileiro ao programa baseia-se no requisito de que a participação dos nacionais é voluntária e poderá ser revisto, a qualquer tempo, caso esses termos sejam alterados”, acrescentou o Itamaraty.
No domingo (1º), o jornal The Observer publicou uma reportagem informando que 629 brasileiros – incluindo 109 crianças – foram deportados em três voos entre agosto e setembro em uma operação de porte sem precedentes. A reportagem, publicação dominical ligada ao tradicional The Guardian, afirma que o Departamento do Interior britânico nunca deportou tantos imigrantes de uma mesma nacionalidade em uma operação deste porte. A inclusão de crianças também foi destacada como inédita.
A operação se dividiu em três voos:
1º voo – 9 de agosto: 205 pessoas, incluindo 43 crianças;
2º voo – 23 de agosto: 206 pessoas, incluindo 30 crianças;
3º voo – 27 de setembro: 218 pessoas, incluindo 36 crianças.
A reportagem destacou que as crianças nos voos estavam com suas famílias e muitas delas teriam estudado escolas britânicas “e provavelmente teriam passado a maior parte, se não toda, de suas vidas no Reino Unido”.
A organização de direitos humanos Coalizão de Latino-Americanos no Reino Unido (CLAUK) viu a ação com preocupação devido aos “níveis sem precedentes de retornos voluntários entre os brasileiros. Entre elas, muitas crianças que foram instaladas nas escolas estão agora arrancadas”.
A coalisão alerta que faltam dados oficiais sobre os latino-americanos que participam do programa para saber se os imigrantes tiveram seus direitos respeitados. “O governo deve responder aos pedidos do nosso setor por caminhos justos, acessíveis e seguros para a cidadania e o estabelecimento de muitas comunidades que chamam o Reino Unido de lar”, concluiu a organização.