Segunda-feira, 31 de março de 2025
Por Redação O Sul | 28 de março de 2025
Inelegível e agora réu sob a acusação de liderar uma tentativa de golpe de Estado para permanecer no poder, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) demonstrou preocupação em se reaproximar do Republicanos, partido do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, no dia seguinte ao julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF).
Embora evite falar na possibilidade de não ser candidato em 2026, Bolsonaro externou que a retomada dos contatos com o presidente nacional da legenda, o deputado Marcos Pereira (SP), não deve se restringir aos diálogos sobre o projeto que pode anistiar os condenados pelos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023.
Em almoço com os senadores Ciro Nogueira (PP-PI) e Flávio Bolsonaro (PL-RJ), na quinta-feira (27), Bolsonaro debateu em quais Estados o PL poderia estar junto com integrantes da provável federação entre União Brasil e PP. Nas conversas, Bolsonaro teria dito ser necessário construir alianças mais sólidas com o partido de Tarcísio, que desponta como favorito para substitui-lo na corrida presidencial, e retomar os diálogos com a cúpula do partido.
Em relação ao julgamento do Supremo, Bolsonaro se disse “injustiçado” pela decisão unânime da Corte e reclamou da exibição de um vídeo durante o voto do ministro Alexandre de Moraes, que estava fora dos autos do processo.
Embora não seja inédita, a exibição de vídeos durante as sessões de julgamento não é comum e fez parte de uma estratégia de Moraes para fortalecer os elementos trazidos na denúncia e relembrar os fatos ocorridos no dia 8 de janeiro.
O vídeo foi produzido pelo gabinete de Moraes e faz um compilado de imagens escolhidas pelo ministro. O STF aceitou, por 5 votos a 0, a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o “núcleo crucial” da trama golpista. O grupo, segundo o Ministério Público, teria se organizado para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) após as eleições de 2022, esforço cuja “última esperança” teria se manifestado nos ataques às sedes dos três Poderes.
De acordo com Ciro Nogueira, Bolsonaro se mostrou abalado com o julgamento, mas já começou a projetar acordos por 2026.
“O almoço focou na nossa federação (do PP) com o União Brasil, debati com Bolsonaro onde poderemos caminhar juntos com o PL, uma análise mais macro de alianças já mirando 2026. Nesta equação, ele citou por mais de uma vez ser necessário atrair o Republicanos, tanto para o projeto da anistia, quanto para o projeto eleitoral. Sobre o julgamento, ele se disse ser injustiçado e contestou a exibição do vídeo fora dos autos.”
A retomada dos contatos com a cúpula do Republicanos para 2026 acontece depois de uma série de embates nos últimos anos. Desavenças públicas com Bolsonaro distanciaram Marcos Pereira do ex-presidente.
No ano passado, o presidente do Republicanos tentou restabelecer diálogos com Bolsonaro como forma de se cacifar pela sucessão de Arthur Lira (PP-AL) na presidência da Câmara. Pereira e Bolsonaro estavam rompidos há mais de um ano, desde que o presidente do Republicanos criticou a viagem do ex-presidente para os Estados Unidos após perder as eleições de 2022 e disse que “ele deveria fazer oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Brasil”.
Em outro episódio que gerou desgastes, Pereira viajou a São Paulo no mesmo avião que Lula, onde inauguraram um túnel. A pessoas próximas, Bolsonaro criticou a aproximação.
Sem conseguir se cacifar para a Câmara, Pereira emplacou Hugo Motta (PB), seu correligionário, como presidente da Casa e conseguiu contar com o apoio dos bolsonaristas, que abocanharam a vice-presidência da Casa e comissões temáticas de grande orçamento sem dificuldades.
No início deste mês, entretanto, mais um episódio parecia esfriar a relação entre os partidos: Pereira fez contestações jurídicas ao projeto que anistia os envolvidos nos ataques do 8 de janeiro, o que provocou a ira de Bolsonaro e outros aliados.
Pereira ligou para Bolsonaro e disse que “foi mal interpretado”. A aliados, o presidente do Republicanos tem afirmado que, como jurista, avalia que a anistia não pode ser aprovada antes que todas as ações sobre os atos antidemocráticos sejam analisadas e finalizadas. Na sua visão, isso abriria espaço para que partidos contrários anulem a medida no STF. (Com informações do jornal O Globo)