Na reunião em que tratou sobre as investigações de um esquema de rachadinha no gabinete de Flávio Bolsonaro (PL-RJ) na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), Jair Bolsonaro demonstrou incômodo com um relatório do Conselho do Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que mirou uma movimentação bancária do advogado Frederick Wassef.
No relatório, consta que Wassef fez um pagamento de R$ 10,2 mil para o urologista Wladimir Alfer, que atende no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Alfer atendeu Fabrício Queiroz, pivô do caso das rachadinhas, quando ele iniciou exames para um tratamento de câncer no intestino.
A reunião, gravada pelo então diretor-geral da Abin Alexandre Ramagem, ocorreu em 25 de agosto de 2020 e contou com a participação de Ramagem, do ex-presidente Jair Bolsonaro, do então ministro-chefe do GSI, Augusto Heleno, e das advogadas Luciana Pires e Juliana Bierrenbach. Bierrenbach representou Flávio por dois anos, entre 2020 e 2022.
Por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o teor da gravação foi tornado público nessa segunda-feira (15).
Diálogo
“Por que investigar o Frederico? Por que investigar o Frederico?”, indagou Bolsonaro, em referência ao advogado da família Bolsonaro,Frederick Wassef.
“Por que investigar o Frederico? É o advogado do presidente, é o advogado do Flávio. Eles tentaram fazer isso comigo, eles tentaram. Só que eles não conseguiram”, respondeu Luciana, sem especificar quem seriam “eles”.
“A gente tem interações lá no Ministério Público Federal. Fizeram pirâmide do Fred. O que isso tem a ver com a investigação do Flávio? Nada. Tem indícios de crime? Instaura um procedimento próprio. E que a competência pare no Rio de Janeiro”, acrescentou a advogada.
Em outro momento da conversa gravada por Ramagem, Bolsonaro insistiu: “Vai ser investigado por que, o Fred?”
Luciana então comentou: “Porque apareceu um RIF (relatório de inteligência financeira) espontâneo com lavagem de dinheiro. Pagou médico para Queiroz. Qual o problema? Me fala qual é o problema. Me fala qual é o problema pegar o meu dinheiro (inaudível).”
Bolsonaro indagou então a advogada sobre qual a forma de pagamento efetuada por Fred Wassef, se por dinheiro ou se uma transferência bancária chamada DOC.
“Transferência bancária do médico”, informou Luciana Pires. “Mas qual é o problema?”, indagou o ex-presidente.
“Zero, zero. Aí o que que acontece? Apareceu no RIF transferência do médico (inaudível). E, eles falam que isso é uma movimentação atípica e começam a varrer a vida dele, que ele recebeu quatorze milhões”, respondeu a advogada.