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Rio de Janeiro, berço do bolsonarismo

Lula, durante cerimônia de entrega de unidades habitacionais do Programa Morar Carioca, nesse domingo (30). (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Depois de uma das 14 agendas públicas que teve no Rio este ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva encerrou sua visita em um jantar na Gávea Pequena, residência oficial do prefeito Eduardo Paes (PSD). Lá, ouviu Moacyr Luz cantar “Saudades da Guanabara”, música que simboliza o sentimento nostálgico do carioca em relação ao que a cidade, ex-capital do País, foi no passado. Duas testemunhas contam que Lula disse que havia, enfim, compreendido o imaginário político do Estado – o mesmo que, após dar boas votações ao PT em eleições presidenciais, trocou o partido por Jair Bolsonaro.

O causo, mais do que jogar luz sobre o cenário de adversidade reconhecido pelo próprio PT no berço do bolsonarismo, sintetiza o esforço do presidente em reverter a tendência por meio de investimentos, baseado na ideia de que o País tem uma “dívida” com o Rio. O pensamento tem sido repetido em discursos do petista, que deixou a esquerda em segundo plano na tentativa de recuperar terreno. Escorado em alianças com prefeitos de fora de seu campo político, Lula visitou o Rio mais do que qualquer outro estado neste ano. Só na capital, são dez eventos públicos entre janeiro e junho – incluindo uma visita, nesse domingo (30), para lançar unidades habitacionais construídas pela prefeitura com ajuda federal.

“A presença do presidente Lula no Rio demonstra o seu compromisso. Já anunciou vários investimentos: faculdade de matemática, Galeão, várias obras do PAC. Uma série de municípios contemplados com diversos equipamentos”, diz o presidente estadual do PT, João Maurício de Freitas. “E é também uma estratégia para retomar um território político que foi dominado pelas fake news do Bolsonaro e toda a rede de ódio”, complementa.

A última eleição presidencial foi a primeira em que o PT venceu nacionalmente, mas perdeu no Rio. Durante os governos anteriores de Lula e de Dilma Rousseff, o partido construiu amplas votações na capital e na Região Metropolitana. Para isso, valeu-se de investimentos federais em projetos de grande porte que depois naufragaram – casos do Complexo Petroquímico de Itaboraí (Comperj) e do teleférico do Morro do Alemão – e da capilaridade do antigo PMDB, aliado que dominava a maioria das prefeituras.

Grande aposta

Em meio à decadência fiscal e à falência de políticas de segurança, Bolsonaro arregimentou camadas da sociedade que antes votavam majoritariamente no PT. Para recuperar terreno, além de derramar verbas, Lula busca ampliar o arco de prefeitos aliados. Na capital, Paes é a grande aposta, algo evidenciado pela quantidade de agendas ao lado do prefeito. Apesar da pressão petista para tentar indicar o vice na chapa deste ano – hipótese muito remota, o foco do partido está na eleição de 2026, quando o prefeito deve concorrer a governador e pode abrir um palanque para Lula no estado.

Na Baixada, Lula estreitou laços com o prefeito de Belford Roxo, Waguinho (Republicanos), o único da região que o apoiou em 2022. O presidente também visitou a cidade neste ano, onde anunciou obras nas áreas de saúde e educação com verba federal.

“Além de levar o governo federal para perto dos prefeitos, tenho conversado com o presidente Lula que é preciso formar novas lideranças. Estou fazendo esse trabalho de fortalecer a base do presidente pelo estado, mas hoje poucos prefeitos têm essa mesma coragem, porque o bolsonarismo ainda tem muita força no Rio”, avalia Waguinho. As informações são do jornal O Globo.

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