Quando ocorrem grandes desastres como o que o Rio Grande do Sul está vivenciando, seus efeitos e consequências abalam, transtornam e podem alterar a vida e o destino de sua população
É importante, sem esquecer as perdas das vidas e das estruturas físicas, que o conjunto da comunidade – governo, sociedade e o apoio solidário recebido de todas as partes – encontre resiliência e resistência para compreender que a recuperação é um processo de gerenciamento contínuo, à medida que os efeitos do desastre e seus desdobramentos se estendem ao longo do tempo.
Nesse sentido, a compreensão inicia pelo fato de que a recuperação física de desastres não é de curto prazo e as cicatrizes psicológicas podem se manter por muito Comunidades e população sobrevivem à catástrofe inicial, mas depois sofrem com a recuperação, à medida que a economia estagna, os recursos comprometidos não obedecem a celeridade, as redes de solidariedade social enfraquecem e os cuidados essenciais de saúde e os serviços de apoio diminuem.
No entanto, como em todas as circunstâncias da vida civilizatória, especialmente, diante das mais críticas o receituário indica elencar prioridades, tarefa nada fácil para regiões e cidades afetadas por inundações que superaram referências históricos de ações e providências, como a exemplo, as da enchente de 1941.
O foco da crise decorrente dos efeitos das anunciadas e prescritas mudanças climáticas, a qual o Estado do RS e suas as comunidades está submetido, impõe, neste momento, um propositivo roteiro de Planejamento, para enfrentar este crítico cenário, qual seja com as seguintes etapas:
– Emergência: Resgate e Acolhimento;
– Rescaldo: Descarte e Recuperação;
– Reconstrução 1: Recomposição e Construção;
– Reconstrução 2: Construção e Planejamento para o enfrentamento de novos eventos de desastres.
Cabe destacar, que o sugestivo roteiro tem etapas sequenciais, sobrepostos e não estanques conforme as circunstâncias temporais, bem como a ser suportado por forças-tarefas especializadas, científicas, técnicas, plurais, voluntárias e solidárias.
Este roteiro sugestivo poderá ser útil desde que outro aspecto fundamental seja considerado e praticado no processo de gerenciamento da recuperação, qual seja o da Governança representada pela capacidade de reunir, integrar e ouvir com equidade todas as partes interessadas. Nesse sentido, significa resgatar tanto em tempos normais como nos pós-desastres, o pensar sobre a reconstrução e obter consensos mínimos entre indivíduos, organizações e instituições.
Os participantes agem de acordo com as suas próprias necessidades, limitados por seus hábitos e interesses sobre a infraestrutura e valores de propriedade dentro de contextos do ambiente físico, questões econômicas, forças sociais, relações interpessoais e política. Todos os intervenientes planejam, comunicam e agem ao mesmo tempo enquanto tentam restaurar a habitação, os meios de subsistência, as infraestruturas comunitárias e as economias locais.
Estes momentos, assim como deveria ser na normalidade, apontam para a necessidade de uma forte coordenação entre os múltiplos níveis de organizações governamentais e não governamentais, ou seja, a constituição de um quadro comunitário para construir consensos mínimos à recuperação, o qual culturalmente é composto por uma individualizada e fragmentada rede de diferentes grupos de partes interessadas.
Como toda a crise tem seus efeitos disruptivos, seja na cultura e nos hábitos, seria importante que em meio ao processo de Governança da crise, que o mesmo o sirva pata oportunizar e conciliar sistemas hierárquicos e sujeitos a regras de recuperação de desastres com sistemas em rede, cooperativos e formuladores de consensos mínimos, os quais agreguem uma curva de aprendizagem para melhorar significativamente os processos de enfrentamento e de resultados de recuperação pós- catástrofes.
Portanto, a capacidade de Planejamento – estratégia e método – e de Governança – transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade – constituem fatores críticos de sucesso para que o Rio Grande do Sul e suas comunidades afetadas possam resgatar a esperança, confiança e credibilidade na capacidade de enfrentar e superar a crise.
(Paulo de Tarso Pinheiro Machado – Economista, MSc., PÓS-MBA, Ex-Secretário Executivo do Programa de Gerenciamento e Recuperação Ambiental da Bacia Hidrográfica do Guaíba -PRÓ-GUAÍBA e Ex-Diretor-Presidente do Grupo CEEE)