O Rio Grande do Sul já registrou, em 2024, 166 casos de coqueluche, distribuídos por todas as faixas etárias e com maior concentração em menores de um ano. O aumento em relação aos últimos anos também é observado no restante do Brasil e em outros países.
Isso é um alerta para que SES (Secretaria Estadual da Saúde) reforce a importância da vacinação contra a doença. Duas as vacinas previstas protegem da coqueluche: a pentavalente e tríplice bacteriana, cujas doses são aplicadas a partir dos dois meses de idade até os quatro anos, conforme esquema preconizado pelo Programa Nacional de Imunizações.
No Brasil, até 9 de novembro, foram confirmados mais de 3,2 mil casos. Os estados com maior número de registros são Paraná (1.229), São Paulo (831), Minas Gerais (384), Rio de Janeiro (259) e Distrito Federal (163). Em outros países, também foi identificado um aumento de casos, como nos Estados Unidos, na Austrália, no Canadá, em Israel e no Reino Unido.
No RS, a comparação com o mesmo período em anos anteriores mostra que 2024 ainda está aquém das confirmações de 2017 (245), próximo as de 2018 (154) e acima das de 2019 (55).
Os anos de maior registro da doença no Estado (considerando a série histórica desde 1999) foram 2012 e 2013, quando, no mesmo período, 583 e 478 casos, respectivamente, haviam sido confirmados. Em 2014 foram 205 casos no período. Historicamente a temporada de maior circulação da bactéria causadora da doença no Estado é justamente a primavera e o início do verão.
Conforme a especialista em saúde do Centro Estadual de Vigilância em Saúde, Lara Crescente, os anos de 2020 a 2023 foram atípicos para circulação da coqueluche. Ela aponta como possíveis causas as medidas de isolamento e o uso de máscaras na pandemia de covid-19, que reduziram a transmissão de doenças respiratórias de maneira geral, assim como o uso mais amplo de antibióticos para tratar problemas respiratórios e o padrão da doença com ciclos hiperendêmicos entre três e cinco anos.
A doença
A coqueluche é uma doença respiratória infecciosa aguda de alta transmissibilidade. Uma pessoa doente pode infectar até 17 pessoas suscetíveis. É de notificação compulsória e imediata (até 24 horas) frente à suspeita, devendo ser comunicada à vigilância municipal.
A transmissão ocorre por gotículas expelidas ao falar, tossir ou espirrar. A doença é causada por uma bactéria chamada Bordetella pertussis e possui como sintoma principal os acessos de tosse que evoluem em três fases:
Fase inicial (catarral): começa como um resfriado comum, com sintomas leves como febre baixa, mal-estar geral, coriza e tosse seca. Gradualmente, a tosse se torna mais intensa e frequente evoluindo para crises de tosse. Essa fase pode durar de uma a duas semanas.
Fase de tosse intensa (paroxística): geralmente é afebril ou com febre baixa, mas em alguns casos, ocorrem vários picos de febre no decorrer do dia. A tosse se torna muito forte e incontrolável, com crises súbitas e rápidas que podem causar vômitos. Durante essas crises a pessoa pode ter dificuldade para inspirar, apresenta rosto vermelho (congestão facial) ou azulado (cianose) e, às vezes, pode fazer um som agudo ao inspirar (guincho). Essa fase pode durar de duas a seis semanas.
Fase de recuperação (convalescença): a tosse começa a diminuir em frequência e em intensidade, mas pode persistir entre duas e seis semanas ou por até três meses. Infecções respiratórias de outra natureza, durante essa fase, podem fazer a tosse intensa (paroxismos) voltar temporariamente.
Diagnóstico
O diagnóstico laboratorial é realizado a partir do isolamento da bactéria em cultura ou pela técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR) em tempo real de material colhido de nasofaringe, em todas as faixas etárias.
A coleta de amostra deve ser realizada antes do início do tratamento com antibiótico, no máximo, até três dias após seu início. Na impossibilidade da coleta do caso suspeito, pode ser realizada coleta de comunicante próximo (residente do mesmo domicílio) que não esteja em uso de antibiótico.
O Laboratório Central do Estado disponibiliza material para coleta às vigilâncias epidemiológicas municipais e executa o PCR e a cultura da totalidade das amostras recebidas.
Vacinas
A coqueluche é uma doença prevenível por meio da vacinação, que integra o calendário infantil. As vacinas indicadas são a pentavalente, que protege contra a difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e Haemophilus influenzae tipo b, e a tríplice bacteriana, que protege contra difteria, tétano e coqueluche. O esquema vacinal preconizado são três doses da pentavalente (aos dois, quatro e seis meses de idade) e mais dois reforços com a tríplice bacteriana (aos 15 meses e aos quatro anos de idade).
Desde 2014, as gestantes recebem no pré-natal, a partir da 20ª semana, a vacina dTpa (tríplice bacteriana acelular), cujo objetivo é proteger o recém-nascido contra a coqueluche. Os lactentes jovens (menores de seis meses) são o grupo de risco para complicações (pneumonias, bronquiectasias, enfisema, pneumotórax e encefalopatia) e óbitos. Entre 2007 e 2017 houve 21 óbitos por coqueluche no Estado, todos de crianças com até seis meses de idade. Não houve novos óbitos após 2017.
Nos últimos cinco anos, as coberturas vacinais relativas à pentavalente e o primeiro reforço da tríplice bacteriana tem se mantido, no RS, abaixo da meta preconizada de 95%.