Sem conceder entrevistas desde a semana passada, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), continuou em silêncio nesta sexta-feira (24) após a troca de acusações entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-ministro Sergio Moro. O ex-juiz da “Operação Lava-Jato” pediu demissão do Ministério da Justiça e da Segurança Pública após Maurício Valeixo ser exonerado do comando da Polícia Federal.
Segundo aliados de Maia, o silêncio do deputado do DEM é “estratégico” para ficar distante do radar da militância bolsonarista. Nos últimos dias, ele foi alvo preferencial dos apoiadores do chefe do Poder Executivo nas redes sociais.
Diante do embate público entre Bolsonaro e Moro, Maia teria afirmado a interlocutores que a melhor alternativa seria “ficar fora do foco” dos ataques bolsonaristas. Com isso, ele poderia “analisar melhor e com mais tempo” como se posicionar em relação à nova crise do governo.
Sobre pedidos de impeachment, o presidente da Câmara teria sinalizado que, entre os que já foram apresentados, ainda não há nenhum que justifique o afastamento de Bolsonaro. Parlamentares de vários partidos, de centro e da oposição, entraram em contato com ele ao longo do dia para sinalizar que o momento adequado para o impeachment pode estar próximo. Alguns aliados chegaram a conversar pessoalmente com o parlamentar do DEM.
Questionado sobre novos pedidos de impeachment, que sejam sustentados pelas acusações de Moro, Maia evitou responder, mas não descartou que essas solicitações possam avançar. Fontes avaliam que Maia só acatará o pedido de afastamento de Bolsonaro caso tenha clima político e apoio popular para levar o processo adiante.
Foto falsa
Grupos de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro estão compartilhando por meio de aplicativos de mensagem e de redes sociais fake news sobre foto de uma reunião de 2019 entre o ex-ministro Sergio Moro, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP).
Os bolsonaristas têm compartilhado a foto com mensagens que insinuam que Moro teria se aproximado recentemente de Maia e Joice, que têm tido embates com o presidente. Em algumas versões da narrativa, bolsonaristas dizem que o encontro entre os três teria acontecido nesta sexta (25) e teria relação com a decisão de Moro deixar a pasta. A falsa narrativa que se tenta disseminar é a de que o ex-juiz teria se aproximado de ambos para conspirar contra Bolsonaro.
No entanto, o café da manhã retratado na foto aconteceu em março de 2019, quando Joice, então como aliada do governo, tentou colocar panos quentes em divergências entre Moro e Maia e avançar na aprovação do pacote anticrime na Câmara.
Maia já trocava alfinetadas com Bolsonaro, mas em clima menos agressivo do que acontece atualmente. Moro e Joice ainda tinham boa relação com o Planalto. Os ataques associados às fake news da foto de 2019 começaram em grupos de WhatsApp de bolsonaristas e logo transbordaram para redes sociais como Twitter e Facebook.
Como revelado pelo Painel, Moro alertou os funcionários do Ministério da Justiça de que os ataques começariam a acontecer após a sua saída. Em sua despedida, o ministro não deu mais informações sobre de onde ou de quem podem vir os ataques, mas disse que vão tentar de alguma maneira apontar problemas nos feitos do ministério, por exemplo.